AMIGO DE SI MESMO. QUEM SOU EU?

Na psicologia é conhecido um teste corriqueiro para crianças difíceis.

Colocadas em suas frentes histórias onde constam personagens boas, fadas e principes, e más como bruxas e bruxos, crianças difíceis pedidas para se identificarem com algum dos personagens, rapidamente se identificam com as bruxas ou vilões.

É assim também na vida adulta, não se consegue ver, sendo a encarnação de um adulto difícil e problemático, por não gostar de si mesmo, “não ser seu amigo”, um bom personagem que se possa identificar e mesmo enaltecer positivamente, adjetivando-o como Sábio, Principe, Mestre, serão sempre figuras que encarnariam o mal as definidas e assim vistas, identificadas, mesmo que tenham sido e vivido para fazer o bem.

E por que isso acontece? É a veia do conflito interior correndo corporalmente por aglutinar fatores existenciais que a mente projeta, com o nome do mal ainda que em personagem que figure o bem.

Martha Medeiros, com larga repercussão em suas crônicas na revista O Globo, dá bem e popularmente o enfoque dessa realidade existencial, e o faz em artigo de alcance para todos.

Nada que já não se saiba, mas dito de maneira bastante didática e popular.

Extraio partes em seguida.

“Amigo de si mesmo. Em seu recém-lançado livro Quem Pensas Tu que Eu Sou?, o psicanalista Abrão Slavutsky reflete sobre a necessidade de conquistar o reconhecimento alheio para que possamos desenvolver nossa autoestima. Mas como sermos percebidos generosamente pelo olhar dos outros? Os ensaios que compõem o livro percorrem vários caminhos para encontrar essa resposta.. Ele reproduz uma questão levantada e respondida pelo filósofo Sêneca: “Perguntas-me qual foi meu maior progresso? Comecei a ser amigo de mim mesmo”.

Para ser amigo de si mesmo é preciso estar atento a algumas condições do espírito. A primeira aliada da camaradagem é a humildade. Jamais seremos amigos de nós mesmos se continuarmos a interpretar o papel de Hércules ou de qualquer super-herói invencível. Encare-se no espelho e pergunte: quem eu penso que sou? E chore, porque você é fraco, erra, se engana, explode, faz bobagem. E aí enxugue as lágrimas e perdoe-se, que é o que bons amigos fazem: perdoam.

“Para atingir a verdade, é preciso superar a seriedade da certeza”. É uma frase genial. O bem-humorado respeita as certezas, mas as transcende. Só assim o sujeito passa a se divertir com o imponderável da vida e a tolerar suas dificuldades.

Por fim, pare de pensar. É o melhor conselho que um amigo pode dar a outro: pare de fazer fantasias, sentir-se perseguido, neurotizar relações, comprar briga por besteira, maximizar pequenas chatices, estender discussões, buscar no passado as justificativas para ser do jeito que é, fazendo a linha “sou rebelde porque o mundo quis assim”. Sem essa. O mundo nem estava prestando atenção em você, acorde. Salve-se dos seus traumas de infância.

Quem não consegue sozinho, deve acudir-se com um terapeuta. Só não pode esquecer: sem amizade por si próprio, nunca haverá progresso possível, como bem escreveu Sêneca cerca de 2.000 anos atrás. Permanecerá enredado em suas próprias angústias e sendo nada menos que seu pior inimigo.

Martha Medeiros.”

São fatores pessoais que saltam aos olhos de qualquer um, falados com simplicidade e sem ritualística verbal, um verdadeiro repositório de autoajuda, tão festejado atualmente.

Quem sou eu afinal? Reside nessa interrogação o ser ou não ser amigo de si mesmo.

Sou o que não sou e quis ser (Seria isso? É isso.), filho da pretensão que gerou a paternidade do egoísmo.

Com esse perfil ególatra o mundo não me conheceu como pretendi ser e nem como sou. Como sou seria muito (realidade desconhecida), mas me fiz um nada por querer ser o que não era nem poderia ser.

Paguei por não ser como sou e paguei mais e muito pela soberba que me isolou de mim e do mundo. Entendo agora porque não fui compreendido ainda que sendo um ser.

Fui um ser de mentira, um ser que não foi, virei meu rosto para minha identidade, esqueci que sendo o que era já era muito, era filho de Deus, descendente de David e Cristo.

Não achei minha identidade a tempo de ser pessoa integral.

Esse é o espelho da vaidade que recusa a identidade e morre nas garras da depressão, da irrealidade que desenha a pretensão e faz moldura na frustração do quadro que pinta a estrada da vida, cinzenta e ruinosa.

Mas é sempre tempo de rever, recuperar, entender, abrir o coração.

É preciso entender que nossos limites são traçados sem retornos, nascemos para sermos o que somos, entre lutas e conquistas o que somos seremos desde que despojados de vaidade para sermos ao menos o que viremos a ser com humildade e singeleza.

Em sentido contrário insistir, sem respeitar nossos reais horizontes, legítimos e belos, todos sem exceção, figurando e projetando a ficção que não se realiza por estar além da realidade a que viemos, desembocaremos na indesejada mistura félea do amargor vestido de desilusão.

Como diz a cronista, temos de ser amigos de nós mesmos para sermos pessoas, sempre há tempo para sermos o que somos.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 03/01/2010
Código do texto: T2008633
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