ECONOMIAS TRISTES
Você foi embora. Era uma tarde tranqüila de outono, como todas as nossas tardes tranqüilas. Você levou a mala preta tão muda e pequena, que não consegui compreender toda a nossa economia de anos. Não tínhamos muito pra oferecer um ao outro. Nenhum castelo havia sido construído. Nenhuma pedra havia sido levantada. Não tínhamos heranças alegres nem tristes. Durante esses anos, economizamos palavras e caminhadas, silêncios e gritos. Economizamos terrivelmente. Sua mala, de fato, estava muito pequena para quem passou tantos anos juntos e eu preferi sentar-me em frente à TV. Não iria ver nenhuma novela ou filme. Os programas estavam tão assustadores em seu mutismo cotidiano... Queria apenas que você levasse logo aquela mala da sala e que, por favor, limpasse o tapete. Seus sapatos, pela primeira vez esses anos todos, traziam sujeira da rua e um pouco de relva verde que eu não compreendi direito o que lembravam. Não fiz nenhuma pergunta. Economizei simplesmente.