Diário B ( chuva )

Aqui, quase cada dia, à tardinha, tudo escurecido, começa a trovejar. Relâmpagos no horizonte belo. Raios de primavera. Com o ar tão carregado, qualquer movimento faz suar.

Mormaço.

De repente, o vento nos 30 graus. Água do céu que se fechou. Gotas grossas na pedrinha portuguesa colorida e empoeirada dos passeios. Um lampejo rasgando a cortina preta do firmamento. E, retardado, o trovão.

Chove.

Chove na lembrança.

Na Terra d’ Água da que provenho –nem me atrevo a dizer 'sou' -, quando chove, desaparece o céu. Parece que chove desde sempre, e que sempre vai chover. Com a dissolução dos perfis das nuvens – todas, uma -, esvai-se o Tempo. Entramos na eternidade sem ontem nem amanhã.

Chove.

Chove na Belô.

Chuva nas terras mineiras.

Chuva em quase todo o Brasil.

Uma hora, duas, limpam em cima e em baixo, ar e chão, atrapalhando, sujando, o meio, buzinas de carros, sirenes de ambulâncias, da polícia, pessoas circulando às cegas, cada quem baixo sua sombrinha sem ver a mais ninguém.

Preste atenção, dizias naquela manhã molhada, que aqui passam por cima sem olhar atrás. Falta de prática na condução. Nem a palavra guarda-chuva é comum, mas sombrinha - mais imperiosa para seu (sempre à espreita) sol.

Ninguém gosta da chuva.

Ninguém respira por brânquias.

Lembro a um que habitou na Aldeia da Chuva.

Lá no Caminho da Estrela.

Para além do Oceano Tenebroso.

Bem longe de cá.

Gosto de ouvir a chuva fora, tamborilando no chão, quando estamos na cama, dizes, enquanto te aconchegas.

Quinta e sexta feira, 5 e 6, de novembro

Não choveu

Em B.