Morri no ano passado, mas este ano não morro
O poeta violeiro paraibano Zé Limeira nasceu no sítio Tauá de Teixeira, em 1886, e morreu no ano de 54 do século vinte. Conhecido como o poeta do absurdo, Limeira criava versos sem nenhuma lógica aparente. Um dos famosos:
Eu cantei lá no Recife
Dentro do pronto socorro
Ganhei 500 mil réis
Comprei 500 cachorros
Morri no ano passado
Mas neste ano, não morro.
Muitos estudiosos desse violeiro e sua forma estranha de versejar escreveram teses e mais teses sobre o cantador humilde e analfabeto. A sextilha acima, muitos acham que tem a ver com o lance de nascer da própria cinza. Penso que era só imaginação fértil e necessidade urgente de rimar, sem se importar com o sentido das palavras.
Lembrei da estrofe de Limeira para este primeiro dia de 2010. O ano de 2009, quem diria, já é passado, porque o passado sempre começa no dia seguinte. Para o novo ano, tenho a chave de minha própria felicidade: continuar vivo com o resto da família, lançar três livros já prontos, receber a outorga da rádio Zumbi, produzir documentário em vídeo sobre rádios populares e organizar a banda filarmônica do Ponto de Cultura Cantiga de Ninar com instrumentos doados por um mecenas de Itabaiana.
Coisas simples, mas há um trabalho por fazer. A saúde precária atrapalha. Avisei a mim mesmo que não deveria mais me meter em jornalismo no interior, que só dá prejuízo e processo na Justiça. Não ouvi meus conselhos. Também dependendo do altruísmo de terceiros, pretendo retomar a publicação mensal do Tribuna do Vale.
Por pagar as despesas mais depressa do que o dinheiro conseguia entrar, fui à falência em 2009, problema vexatório que devo evitar neste ano, sob pena de ficar sem casa para morar, que a Caixa não brinca em serviço na hora de cobrar as prestações.
Minhas mãos artríticas não deverão pegar no violão, mas terei alegria em ver os meninos do Ponto de Cultura tocando na bandinha de flauta, no conjunto de percussão e na orquestra de violões preparada pacientemente pelo Vital Alves.
Contra toda a desesperança, vamos em frente. É patético que o tal Poder Público possa ficar indiferente, sem estender a mão para uma parceria, enquanto acontece uma pequena revolução na política cultural de Itabaiana. Parece que há uma instrução explícita para não se envolver com nada que não tenha o selo oficial. Não preciso dizer mais nada. Os fatos falam melhor por si. Irrefutáveis.