O HÁBITO
O hábito
As minhas reflexões me convenceram de que o hábito, antes de ser interpretado como condicionamento que aprisiona, deve ser considerado em função da liberdade. Imagine, caro leitor, se, diante de cada ação a ser iniciada, dever-se-ia decidir: agir ou não agir? Chegaríamos à loucura. Concluo sermos livres dessa obrigação porque as ações queridas e aprovadas tornam-se, pelo bom senso, hábito, e assim agimos. Daí, é que a prática do bom hábito sempre nos dá maior liberdade.
A história da educação ensina que os gregos, antigamente, criaram a filosofia de se ensinar às crianças a disciplina para que, quando jovens, praticassem os bons hábitos. Disciplinavam a juventude a acordar cedo; a alimentar-se na hora certa; a cuidar da saúde, da higiene do corpo e da mente; a outros hábitos de rotina e a nunca deixar a curiosidade sem adequada resposta. Era assim a educação em Atenas como em Esparta.
Ainda hoje, há famílias e escolas que preservam a exigência da disciplina e a formação dos bons hábitos. Com certeza, é delas que saem os, cada vez mais raros, cidadãos responsáveis, trabalhadores e honestos consigo mesmo e com a sociedade. Não é por menos que o seleto grupo de mulheres e homens virtuosos constitui-se daqueles que sempre praticaram os bons hábitos.
Há famílias, escolas e até sociedades que não tratam disso e não se interessam pelos bons hábitos. Com certeza, deixam a juventude substituir os bons hábitos pelos de má índole. E lá se vem o vício, hábito oposto à virtude, vícios de prazeres artificiais, até se chegar ao maior, de consequências desastrosas, como o vício das drogas. Mata quem produz, quem comercializa, quem consome e também quando somos vítimas de inveja, assaltos, desastres nas estradas, de alguma bala perdida ou da perda de amigos e entes queridos.
O pior é sociedade e dirigentes se habituarem à violência ou se acostumarem com esse estado de coisas. Para o bem comum, mais suportáveis do que o vício seriam os seus remédios. Melhor seria a estressante preocupação de tudo discernir antes de agir, mesmo com menor liberdade, do que trocar o bom pelo mau hábito ou a virtude pelo vício. Que seja verdade o que nos diz Machado de Assis, em Memórias Póstumas de Brás Cubas: “... o vício é muitas vezes o estrume da virtude”. Cultive-se a virtude, pois desse estrume já temos em abundância.