"Até um dia..."

Há tempos atrás, Deus me deu um presente. Eu nem percebi o que era...nem me toquei como ele seria importante na minha vida... apenas o desembrulhei e comecei a usá-lo.

No início cheia de cautela...com cuidado... NÃO FOI VERDADE...! Não tive cuidado... não tive cautela... Fiquei fascinada pela posse e a consciência de que era meu e que dele eu era, me deu uma certeza maluca de que novamente a vida sorria para mim...

Eu me entreguei inteira, me desligava de tudo e de todos - menos do meu filho, lógico -. Não havia como ser diferente, meu presente era perfeito... um homem bom, religioso, pouco mais velho que eu, com o mesmo nível intelectual, gostando do que eu gostava, me ouvindo - ele não me escutava só, ele me ouvia -, paciente, calmo, observador, gentil, me fazendo rir...sorrir e gargalhar... Ah... eu ficaria horas listando tudo que me agradava nele.

Mas o fato é que a vida tem as suas manhas, suas esquinas e, infelizmente, muitas ciladas...E o senhor da razão - o tempo - muitas vezes joga sujo pois, nos momentos em que estamos felizes, não o vemos parece que ele não existe... aí como num passe de mágica ele ressurge com toda a urgência do mundo... rugindo com todo o seu imediatismo malvado... exigindo que tomemos posições imediatas...

E assim foi conosco... Quando fomos surpreendidos com uma transferência, pedida antes de nos conhecermos...não havia tempo, mas, também, não havia como ele não ir...

E eu?... Não pude deixar de ouvir a "MÃE" que é mais forte dentro de mim do que qualquer dos outros papéis que exerço nesta vida.

Perplexa, eu vi meu amor partir da minha vida, magoado, triste como eu, com apenas um "até um dia..."

(Maria Emilia Xavier)

madrugada de 31/12/2009