A primeira vez que surfei

[...]cinco ondas passaram e ele está à procura da perfeita.

As pessoas ao redor não imaginam, mas ele sabe que a próxima será a perfeita.

Até então, ele nunca tivera a oportunidade de surfar. Ele não ia perder essa.

O Sol mal acabara de nascer, e quem disse que ele se importa? Ele só quer realizar o seu sonho.

A onda vem numa tal perfeição que parece ter sido esculpida por Deus. Parece tão molhada, e é. É tão forte que acaba nos mostrando como somos impotentes em relação à natureza.

Ele rema. Rema com seu jeito todo errado, por ser sua primeira vez. Não pega impulso, e a onda perfeita passa por ele. Mas ele não desiste. Alguma coisa o ensinou que desistência é para os fracos. Ele sabe que se preciso, ficará ali o mês todo. Como não conseguiu pegar a onda, fica ali parado onde outrora já estava. Ele não vai admitir perder outra. Ele sabe que seu coração bate ali; é como se ele já conhecesse aquilo tudo; é como se só estivesse adormecido dentro de si.

Depois de algum tempo esperando, enfim vem uma onda boa. Ele rema. Dessa vez não é igual a passada, dessa vez ele sente o impulso dos seus braços empurrando o fluido d'água para trás. Ele estufa o peito de tal forma sobre a prancha, que quase percebe-se o início de um voo.

A onda o carrega. Ela o empurra com tal facilidade, que ele começa a flutuar sem dificuldade sobre a água. É muito rápido (parece uma montanha-russa, só que em vez de trilhos; muita água.). Ele consegue ir até o fim.

Mesmo que ele não tenha conseguido (ainda) ficar de pé sobre a prancha, sabe que enquanto não conseguir, tentará outra vez.

Ele fica o dia todo ali, e sente que depois disso tudo, vale a pena viver.

Apesar de não ter dado conta de transmitir tudo o que sentiu, sabe bem que só sentindo para entender.[...]