Sonhando com o verão
É sabido que já não há mais demarcações previsíveis entre as estações de verão e de inverno, como se presenciava antigamente. Algo vem interferindo nesta dinâmica. E se por um lado já nos acostumamos, por outro as tragédias pela falta – e principalmente pelo excesso – de chuva, uma das mais marcantes características dentre as estações, elas ainda causam medo e perplexidade.
Isto me lembra que foi numa lojinha do bairro onde moramos que vi o guarda-chuva mais lindo dos últimos tempos. Verdade seja dita: era uma sombrinha. Dependurada sob um toldo de vidro que avançava pela calçada da loja, ela era uma visão fantástica, e eu considerei sinceramente comprá-la, embora houvesse pelo menos três bons guarda-chuvas femininos na minha casa. E quem disse que o bom é necessariamente o que nos aquieta?
Não se passaram nem cinco minutos, e a minha filha que ali entrara para fazer cópias de um relatório escolar enquanto eu esperava no carro, voltou com uma do mesmo modelo. Aberta, as varetas muito finas, delicadas e pintadas em preto fosco, contrastavam com a cor clara e com o tecido acetinado da sombrinha. Além disto, uma curvatura diferente, num estilo mais aberto, dava aquele ar oriental ao nosso inusitado objeto de desejo.
Aconchegada sob o sol filtrado pelo lilás da sombrinha, ela bem se parecia com uma moçoila extraída de um desses óleos valiosos.
- Compra, mãe?
Que mãe não compraria? Provavelmente ela a usará nos dias chuvosos, desses que têm se tornado por demais repetitivos. Quanto a mim, que venho comparando os dias a peças móveis de uma fila indiana, confesso: estou sonhando em desfilar com a sombrinha é no verão.