Texto para um dia de nostalgia.

Alexandre Menezes (rascunho)

Saudava-me com um doce “oi” e da mesma forma, lentamente, pronunciava meu nome. Aquela voz que aveludava os ouvidos e a alma fazia os pensamentos revirarem pelas noites. Dava vontade de perder o juízo. Dava vontade de ser o que não era. Dava vontade de esmurrar a mesa... Era só vê-la sair pela porta e ir embora.

Passava a mão na cabeça – demonstração visível de descontrole – e, com cara de bobo, sempre terminava a noite. Belo também era o sorriso. Ele emoldurava suas palavras que, mesmo despretensiosas, aceleravam um coração já tão inquieto. A ausência era cruel. Meus olhos queriam ao menos vê-la passar rapidamente e, em certos dias, não tinha jeito. Nos delírios em porres dos fins-de-semana estava sempre o seu codinome.

Precisava esconder a identidade. Nossa proximidade provocava inveja, comentários maldosos e condenações. Por mais que tentasse não conseguia disfarçar e, sonhando acordado, um sussurro entregou o mistério da garota que abalava o jovem e tão responsável homem. Não adiantavam, eram justificativas fracassadas.

Um dia se afastou sem explicação. Vê-la passar de cabeça baixa ou evitar o caminho de onde estava era dolorido. Como sempre respeitava. Num encontro casual disse que era necessária à distância. O triste pedido foi atendido. Mudanças de horários e hábitos. Geralmente não estava lá e, quando era preciso, permanecia sentado e trancado numa formalidade burocrática.

“Uma vontade enorme de te dar um beijo sem dizer nada”. Foi a última versão dada como motivo de afastar-se que ouvi daquela voz de veludo. Ainda nos vimos rapidamente uma ou duas vezes e não nos reencontramos mais. No início queria ser um amigo e por fim não restou nada.

Em dias de conflitos existenciais, recordo das vezes que perguntava as razões da minha cara abatida. Como se tornou impossível vê-la de outra maneira, olho sempre a foto que guardei sem que soubesse. Também não soube de tantas coisas que por medo ou qualquer outra fraqueza acabei não contando. Caso um dia descubra e peça, devolvo a foto e apago o arquivo. Pode pedir o que quiser, só não há como tirar a linda voz e sua imagem da memória. Guardei com bastante carinho.

Alexandre Menezes
Enviado por Alexandre Menezes em 30/12/2009
Reeditado em 30/12/2009
Código do texto: T2003361
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