Acordo todos os dias como quem tomou alucinógenos
Acordo todos os dias como quem tomou alucinógenos. São delírios incontidos, que explodem de forma incontável, um imediatamente após outro, eles misturam minhas dores físicas ainda resultantes do atropelamento e suas conseqüências e minhas dores emocionais que me acompanham por anos a fio. Não que eu seja uma pessoa sem paz, dizer isto é um absurdo, sou feliz sim e tenho uma vida quase “normal”; afinal qual de nós, meros mortais não é nos meandros da alma acometido por eles em maiores ou menores doses. Uma é descarregar o excesso de informações, de resíduos que deixaram de ser interessantes. Estive lendo alguns artigos sobre os sonhos. Eles são definidos como importante para fazer a reverberação, ou seja, a reativação de determinados circuitos. Consolidação da memória. Tem a função de proporcionar um aprendizado indispensável a espécie, pois facilita a transferência de elementos apreendidos durante a vigília de uma memória de curto prazo para outra de mais longo prazo. É como passar repetidas vezes uma fita de vídeo para que a pessoa assimile o que nela está contido. Uma experiência feita com ratos demonstrou que a circuitaria neuronal ativada durante o processo de aprendizagem de uma tarefa nova, estava ativa durante o sonho e, depois de um tempo, era reativada automaticamente toda a vez que o animalzinho refazia a tarefa que tinha aprendido. É uma operação contínua de descarga de conflitos, realizações intangíveis de desejos não consumados, tenta driblar a tristeza da memória ou atenua a alegria da mesma como se isto fosse vida real. E tantos outros estudos, definições e experimentos, mas eu prefiro ficar por aqui e encarar as coisas de uma forma bastante leiga, dizendo que reconheço sua importância real em nossa psique, apesar de me amedrontarem, serem dolorosos, também são deliciosos, quantas vezes me remetem a paraísos inigualáveis, a realizações jamais vividas e por fim me fazem acordar com tamanha energia que sempre clamo para que recomecem. Sem contar que meus “insights” sempre normalmente ocorrem antes ou depois que eles começam ou terminam e como todo artista, a chamada para os momentos de inspiração são sempre esperados com total ansiedade e desejo. Assim meus dias passam como em um filme que mostra as imagens do sol surgindo e se pondo inúmeras vezes, uma após outra continuamente. Vez por outra, noites brilhantes com todas as luzes da cidade acesas podem ser observadas de cima que quase chego a ouvir os barulhos de businas e os sons da metrópole desperta nas madrugadas. São momentos únicos que interrompem o passar corrido desses dias e noites, como uma parada para observar as nuances magníficas de um por do sol mais que inspirador, ou a lua cheia que parece querer nos tomar para ela, uma visita de um ente querido e conversas repletas de saudade de um tempo para o qual gratamente retomamos em momentos assim, o beijo de um filho, o sorriso e olhar do pai, um abraço amigo, a esperança de que um amor que já se foi possa voltar, ou meros flertes, um trabalho concluído, mas principalmente momentos a sós com Deus que nos fazem nus e agradecidos por suas misericórdias infindas. Sonhar é algo maravilhoso quer sob vigília ou não, é quando nosso dedo de “ets” toca o inalcançável e sobrepujam a nós mesmos, permitindo-nos sermos observados além de nós.