A AGONIA DAS PEQUENAS

As pequenas cidades agonizam e parecem condenadas ao esquecimento e a serem transformadas em abrigos de velhos que, no lastro da valentia e do orgulho, sustentam a tradição e a história, mas que se rendem à tristeza de ver o êxodo da juventude escapando em direção às cidades médias e, principalmente às metrópoles. São Sepé ( interior do RS, com pouco mais de 20.000 habitantes) , insere-se nesse conceito , de uma cidade que luta bravamente para manter-se firme, com o agravante de localizar-se muito próxima de Santa Maria,( cidade média com cerca de 300.000 habitantes) cuja imponência atrai a muitos, sobretudo às novas gerações.

Esses jovens vão em busca de emprego e isso é uma verdade insofismável , mas não é só a possibilidade de conquistar uma atividade remunerada que tanto atrai quem está , por assim dizer, “começando a vida”. A corrosão das pequenas cidades é uma realidade que se renova. Falta quase tudo. Os cinemas que outrora compunham o panorama central das pequenas cidades desapareceram. Até a década de setenta em qualquer cidadezinha do interior era um conceito sagrado: A praça central, a Igreja, o clube, a Prefeitura e um cinema que passava filmes, mas que também servia de palco a peças teatrais e outros espetáculos populares.

Como não havia a concorrência dos “shopings” as ruas centrais abrigavam um bom e competitivo comércio, hoje incapaz de fazer frente às redes de lojas e à imponência dos centros comerciais com toda a estrutura de apoio ao consumo por impulso ou não. Enquanto a mídia da vizinha Santa Maria apontava , (com razão) , seus holofotes para a chegada das Lojas Americanas, do Carrefour e até da rede Subway de “fast-food” , a nós restou o dever de – pelo menos – parar para pensar.

Até mesmo os restaurantes, na gastronomia , aquilo que se constituía num dos últimos baluartes das pequenas cidades começa a ruir qual as paredes da fortaleza da esperança - sim a tradicional cozinha do interior , que “volta e meia” atraia algum visitante - também parece que vai sucumbir às médias e grandes cidades. Já são poucas as casas de comida da campanha que resistem às praças de alimentação e aos grandes estabelecimentos gastronômicos das “cidades-grandes”.

É deveras uma lástima que ninguém com influência e poder se preocupe com esse tema e com o valor das pequenas cidades no contexto de formação da cultura e da identidade de um povo. Resgatá-las significa algo a mais do que gerar lotes de empregos ou incrementar lucros. Existem valores muito mais expressivos que agonizam junto com nossas pequenas cidades, e o âmago desta crônica está em seu conteúdo reflexivo acerca do fenômeno das pequenas cidades e todas suas mazelas, que não são uma exclusividade de São Sepé , mas poderá sim o povo desta terra dar um exemplo exclusivo e próprio de estratégias e métodos de ação que ensinem às outras pequenas como – e o quê fazer – para sair dessa agonia.