Para terminar bem o ano

PARA TERMINAR BEM O ANO

(crônica publicada no jornal "Diário Catarinense" de 30.12.2009)

Certo, falta bastante tempo até o fim do ano, o que significa que muito ainda pode acontecer. Até a zero hora do dia 1º tudo pode ficar bem pior, talvez bem melhor. De qualquer forma, apesar dos riscos inerentes ao exercício, tentemos antecipar algo.

Dos 27 governadores que "operam" no Brasil, um foi filmado em alta definição e som estéreo negociando e embolsando propinas mil. As espetaculares tomadas de cena foram autorizadas pelos tribunais superiores. “Montagem descarada!”, bradou a vítima, indignada. “Não tenho nada com isso, jamais fiz isso, sou o mais angelical dos políticos! Provarei minha inocência na Justiça assim que for chamado a fazê-lo - e, ato seguinte, processarei com o máximo rigor todos os que levantaram a pena contra mim!” Seu vice é cúmplice. Ambos perderão o mandato assim que a Justiça declarar que o processo "transitou em julgado" - daqui a, aproximadamente, 15 anos, 3 meses e 26 dias. Logo ali.

Dos 27 vice-governadores, outro foi denunciado por receber R$ 100 mil para "limpar a barra", na Fazenda, de uma empresa que adulterava combustíveis e sonegou R$ 25 milhões de impostos. As escutas foram autorizadas à Polícia Federal pelo Tribunal de Justiça estadual porque, neste país, delegado de polícia tem filiação político-partidária e coloca a lealdade ao chefe acima do cumprimento do dever. O vice - é regra - declara que é tudo mentira, que vai provar sua inocência nos tribunais, etc., etc.

Um dos 27 prefeitos de Capital não tem verba para implantar o Jardim Botânico, bonito e florido no papel, mas encontra R$ 3,7 milhões para plantar uma única árvore de Natal à beira-mar.

Um secretário de estado aproveita um incêndio para redecorar seu gabinete e equipar o auditório da casa; com dispensa de concorrência pública, as despesas foram superfaturadas.

Na Penitenciária Estadual de São Pedro de Alcântara, onde presos recentemente foram torturados, sabe-se agora que eles também foram roubados - pelo diretor do presídio, que desviou R$ 92,9 mil (hoje, corrigidos, 185,8 mil) do dinheiro ganho pelos detentos com o seu trabalho e dos valores que suas famílias lhes repassavam.

O bom de tudo isso é que, apesar da vergonhosa censura prévia que um tribunal regional impõe há cinco meses a um jornal nacional como "O Estado de São Paulo", essas histórias continuam vindo a público pela Imprensa. Sorte nossa (por enquanto).

(Amilcar Neves é escritor de ficção e autor, entre outros, do livro "O Tempo de Eduardo Dias – Tragédia em 4 tempos", teatro, Editora Garapuvu, Florianópolis, este em coautoria com o escritor Francisco José Pereira)

Amilcar Neves
Enviado por Amilcar Neves em 30/12/2009
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