NÃO POSSO VOLTAR
Desatinos como reparar-los?
O tempo não retrocede.
Ele não tem culpa.
Ou será que tem?
Mas já estive com ela.
Ela?
Ó presente saudade!
Se fosse possível voltar.
Há como eu iria sorrir!
Seria como voltar para meu rincão e reencontrar minha infância, brincar com todas as crianças que moravam lá, mergulhar naquele riacho de águas cristalina e doce que banha o final das Ruas C e D do Bairro Santa Rita em Imperatriz-Ma.
Que saudade!
Ainda retine em meus tímpanos as vozes dos mais arteiros que diziam:
– Quem chegar por ultimo é “mulher do padre”.
A criançada corria pela rua C naquele alvoroço, gritos não faltavam gargalhadas também fazia parte do ritual diário, assim íamos até chegarmos ao campinho da Rua Bom Jesus, ali nos separávamos um para cada lado do campo até formarmos dois times para jogar uma pelada, afinal esta era “a pelada mais desejada pela garotada”, mas que garoto não gosta de “uma pelada?” Ali permanecíamos até por volta das 16:00h, tínhamos de aproveitar o máximo, pois quando os adultos chegavam, “éramos expulsos sem cometer falta”, alis quando os adultos chegam não respeitam as crianças mesmo, só em rara exceção.
Depois do futebol alguém dizia:
– Quem chegar por derradeiro lá no rio vai ser a pira, ninguém queria e não quer ser a tal da pira, é como ser o mais fraco, e ninguém quer ser o mais fraco. Então, todos disparavam pela rua D, a poeira levantava deixando ainda mais sujos os nossos corpos suados, e quando chegávamos ao beirão do rio, o pulo era imediato, ninguém ousava parar, aqueles mais ousados, pulavam de ponta cabeça, inclusive eu, ninguém queria mesmo ser a pira.
Aquelas tardes eram tão belas, inesquecíveis, esquecimento mesmo só do tempo, se nossas mães não viessem nos buscar... Alias quantas tarde fui pego de surpresa pela minha, algumas vezes o coro comia, bem, disto não tenho saúdes e nem vou descrever, mas se elas não aparecessem, lá permanecíamos até o escurecer, e no dia seguinte tudo se repetia. – Ó que doce rotina!
Aquele rio era tão saudável que até servia para as nossas mães lavarem roupas em suas águas, eu adorava quando a minha dizia – hoje eu vou lavar roupa – logo eu ficava ligado, não redava o pé, tinha de encontrar uma maneira de ajudar-la, só pra desfrutar de um bom banho naquelas águas. O rio também alimentava os moradores da redondeza – quantos peixes se pescavam nele – eu mesmo tinha uma vara de piquiar com uma linha 010 de nálio, entrelaçado na ponta tinha um arame que evitava a linha ser cortada por trairás ou piranhas, a chumbada levava para o fundo do rio o anzol que era próprio para pegar as traíras. Lá também se caçada, o leito do rio tinha uma mata ciliar alta e bem refrescante – eram lindos os cocais de babaçu, havia Capivara Tatu, até Anta se viam a passear por lá, muitos outros bichos se alimentavam dos furtos que caiam ao leito do rio, ainda saciavam a sede naquela água natural, e as aves que encantavam aquele rincão com seus cantos lindos, Curiós, Canários, Papagaios e Periquitos, os crepúsculos da manhã e da tarde eram cortejados com doces melodias de cada ave que se abrigavam nas arvores e palmeiras as margens do rio.
– Meu rincão, meu rincão, sempre em salutar saudade, vivo sempre estará em mim, só que para ti não posso voltar.
É muitas lástimas que causam muitas lagrimas.
Esta dor que me faz ruminar a minha arte.
É pura amor por ela.
Mas tudo esta mudado, as crianças cresceram e já não jogam no campinho e não brincam de pira no rio, as caçadas não acontecem mais, as aves que sobreviveram migraram para longe, onde era o campinho hoje tem arranhas céus, já o rio, meu Deus! Destruíram sua mata ciliar, nem as palmeiras de babaçu que formavam os cocais foram poupadas, se ouvem justificativas em discursos capitalistas irracional pelo mundo assim – é o preço do progresso – inconseqüentemente caçaram e mataram os animais que desfrutavam das delicias que dispunha aquela mata, foram eles, os meus próprios conterrâneos que imprudentemente ajudaram a poluí as águas do rio, das varias espécie de peixes que ali habitavam só há alguns peixinhos e não servem para alimentar ninguém, no rio não há quem arrisque um mergulho, a beleza que nos seduzia já não existe, dele se exala um odor horrível.
Do que adianta volta.
Nada esta como antes.
É mesmo assim a vida.
Há tantas coisas boas para lembrar – lembrar é sofrer duas vezes – diz um dito popular.
Será?
Eu sofro hoje, mas as lembranças que descrevo aqui foram tão maravilhosas, que viveria novamente se pudesse, no entanto, o tempo passou e não posso voltar. Mas vivas ficarão estas lembranças, cada dia, cada noite, cada instante vivido, cada beijo dado, cada abraço apertado. Só não posso voltar, mas posso sentir saudades dela, isso por que foram bons todos aqueles momentos inesquecíveis entre nós, ainda por acima, eu a amo.
Autor: Edimar