QUANDO EU OLHEI PARA O CÉU...
Faz mais de vinte anos que eu passo por ela e biologicamente sei que desde então ela já estava lá, embora eu nunca a tivesse notado.
Nas bordas duma velha avenida cujo fluxo é sobrecarregado pelos ônibus da cidade e pelo intenso tráfego de caminhões vindo do sul do país, ela sobrevive formosa na paisagem escura e envelhecida, sob as nuvens cinzas que quase sempre nos dispersam do que ainda há de belo pela redondeza.
Aqui em São Paulo dizem que muito se faz em políticas estratégicas para se combater a emissão de gases poluentes, mas o que vejo pelas avenidas do dia a dia é cada vez mais uma enormidade de veículos que descarregam fumaça preta sob nossos olhos desprotegidos.
Porém sempre que observo os milagres da natureza penso que de fato a natureza é mãe, sempre disposta a perdoar e a nos servir com suas fartas dádivas.
Foi quando hoje, displicentemente ao seguir pela avenida com meu pensamento que vagava a esmo pela paisagem, ergui meus olhos ao céu, e me surpreendi com a altura duma viçosa araucária, que até onde entendo, é uma árvore típica de climas frios, de terrenos altos e de atmosfera limpa.
Em poucos segundos viajei pelos cenários de paz e natureza virgem norteado pelas montanhas que tanto amo, porém logo retornei à minha dura realidade do meu planalto já superaquecido , de sol nublado, em meio à insuportável poluição sonora, visual e atmosférica, mesmo num dia atípico de final de ano, aonde tudo -e não paradoxalmente!- me parece meio morto.
Mas a vida estava ali, teimosamente quase a roçar o céu, imponente e elegante, em meio à crônica ameaça ecológica que paira pelos quatro cantos da cidade...bem como nos do planeta.
Antevéspera de ano novo, e mais uma vez uma mensagem de esperança me veio da Araucária centenária que heroicamente sobrevive em meio à adversidade, cuja copa em taça nos brinda mais um ano vindouro, e que altruísticamente enfeita, durante tantos anos, o meu caminho pela avenida de sempre.