Balanço de Fim de Ano
Vem chegando o fim do ano. E com ele o Natal e as festas que fazemos para o Ano Novo que se aproxima. Talvez seja a hora para um balanço do que aconteceu nos dias que se passaram. Um balanço pessoal. Podendo estar incluído tudo o que nos tem cercado: amigos, inimigos, fatos importantes ou mesmo aqueles que, aparentemente insignificantes, ficaram fora do esquecimento.
Nada nos impede de inserirmos nesse balanço assuntos de anos bem mais anteriores. Como dos amores que tivemos. Ou do único que tivemos. Ou dos casos de amor que soubemos. Todos lindos como a flor que acabou de brotar. Como o pujante choro da criança que acabou de nascer. E permaneceram atraentes e maravilhosos durante um bom tempo. Até que a flor murchou e caiu. E a criança cresceu.
Tudo envelhece. E fica mais feio. Talvez a assertiva seja injusta e precipitada. Ou, no mínimo, questionável e sem fundamento. Mas será, inegavelmente, na maioria dos casos, verdadeira.
Os casais, quando se conhecem, fazem tudo para estar juntos o tempo todo. Andam sempre de mãos dadas. Depois, já não se procuram tanto. Física ou espiritualmente. Não passeiam mais de mãos dadas.
Você dirá que isso não é verdade. Que conhece um casal de velhinhos que ainda saem de mãos dadas. Que conversam ou namoram, se curtem e se olham apaixonadamente. E não poderei discordar. Como você não poderá discordar também que isso não acontece comumente. Não é essa a regra.
Como não é também comum agora encontrarmos casais há muito tempo casados. Primeiro foi o desquite. Hoje é o divórcio o instrumento de separação que tornou as coisas mais fáceis para o marido e a mulher que não encontram mais razões para permanecerem juntos. Apesar de tudo, os casamentos continuam acontecendo. E aos montes.
Ninguém quer saber de que isso seja mais uma ilusão. E na verdade não o é. Pelo menos enquanto não descobrimos.
Mas depois de alguns (ou muitos) anos, assim como a flor que envelhece e a criança que cresce, parece que o amor também fica mais velho. E em muitos casos até se transforma em ódio, uma espécie de seu primo-irmão.
E a mulher fica em casa (ou sai, o que não é o mais usual), querendo tirar todos os bens do marido. Ou o marido sai de casa (ou fica, o que não é o mais usual), querendo que a mulher não fique com nada. Os dois se esquecendo de que já estiveram tão juntos. Justificando a tal da importância que não deixamos de dar aos bens materiais, achando que eles são a razão do nosso bem estar e da nossa felicidade.
Nada disso deve atemorizar a quem acredita que ama. Tratam-se apenas de casos corriqueiros da vida. Acontecem à toda hora. Embora a nossa reação seja a de repelir esse tipo de informação. É o tipo de texto de que não fazemos questão de tomar conhecimento.
No entanto, se visitarmos um hospital qualquer, uma casa geriátrica ou um presídio – o que também não é nada motivador –, vamos eventualmente nos deparar com problemas que muitas vezes superam de longe os nossos.
Por isso essa crônica, que nada tem de original, talvez fosse de alguma serventia, se apresentada a jovens em vias de contrair núpcias, como diriam os antigos. Quem sabe eles teriam mais elementos para trabalhar na construção do amor, tornando-o de perenidade maior que a da flor e de pujança ao menos igual ao sorriso de uma criança?
Rio, 21/12/2009