Direito? Errado!
Toda reunião familiar ou entre amigos era sempre a mesma coisa... “Batata” pensava Odete, “Tava demorando!”
Há anos que a jovem tinha de ouvir ou fingir não fazê-lo, a mãe lamentar para os demais: - Ai, se dependesse de mim, Odete teria cursado Direito... – ela suspirava. – Já estaria empregada, viajando mundo afora e influente... Mas esta menina adora ser do contra!
“Ai, saco!” a jovem pensava. “A mamãe está por fora!” dizia a si mesma, e, continuava, “Este mercado está saturado. Hoje em dia, em qualquer birosca tem uma faculdade de Direito e um bando de formado sem emprego e ainda assim, se achando com o rei na barriga, só porque cursou Direito!”
O problema era que dona Gertrudes arrependia-se por não ter feito tal curso, além de confundir o idealismo da filha, com vocação nata para exercer a função. Queria porque queria que a filha cursasse as ciências jurídicas...
- Deus me livre! – bradava Odete. – Num país onde só os 3 P vão presos? Onde a “justiça” é risível? Onde impera impunidade? Onde o povo pensa que cidadania constitui usufruir os direitos sem ter de cumprir, também, os deveres?
Alguns engraçadinhos gozavam da amiga, dizendo-lhe que o discurso para a candidatura a presidência, já estava pronto; e que votariam nela.
- Política? Falam sério? Nem morta! – Odete dizia convicta. – Políticos, todos, mentem, roubam...
Apressadamente, um corta a conversa. Logo, os amigos passam a conversar sobre assuntos quaisquer do cotidiano, como por exemplo, a rotina de suas profissões. Um, era ator e fazia bico como atendente de loja, para sobreviver. O outro era formado em educação física e trabalhava como personal trainer e; um terceiro era jornalista, indignado com a decisão de inexigência de diploma para o exercício de sua profissão.
Em comum com Odete – exceto o formado em educação física, que ela odiava – além das formações, os amigos sentiam uma repulsa por Direito. Tinham dúvida se era o fato de não acreditarem na justiça ou, se era devido a encheção de saco dos respectivos pais; importunando-lhes por conta de não terem se tornado bacharéis da área.
Por castigo, ou ironia do destino, o grupo de amigos tinha de estudar maçantes matérias de Direito, cobradas em larga escala nos concursos públicos. Tal fato comprovava que os amigos não tinham sequer vocação para o ramo...
Contudo, esse não era o principal problema. O maior suplício – no caso de Odete – era ter de conviver e escutar os lamentos de dona Gertrudes: - Ai, se minha filha tivesse feito Direito!