CRÔNICA - No meu dia de Natal deu bode na cabeça!

           
Diz um velho provérbio: “Quem não tem competência não se estabelece”. Mas vem aquele negócio da teimosia, sim porque quando um cara quer uma coisa tem de ser feita de qualquer maneira.

            Pois é, o amigo Carlos resolvera comprar uma espécie de granja pertinho do Recife, no município do Carpina, que daqui fica a uns 50 quilômetros por estradas asfaltadas; um pulo, num abrir e fechar d’olhos a pessoa chega.

            Pôs-se a aproveitar todo o terreno, benfeitorias, melhoramentos, enfim nada se perderia. O problema residia apenas no caseiro, que não era lá essas grandes coisas, não que se queira daqui eleger um BODE expiatório; o sujeito era preguiçoso mesmo.

O bode (que pena!)

            Mas por falar em BODE, meu genro, que também é Carlos (Filho), resolvera iniciar o criatório desse gado, prevendo a feitura de um saboroso churrasco na minha casa, justamente no dia de Natal.

Lá pelas bandas de Cabaceiras, município situado no sertão paraibano, o BODE é de uma importância sem igual. É o rei. O imperador do sertão. O animal cuja espécie, adaptada às condições adversas do semi-árido nordestino, sustenta a economia de centenas de municípios e a vida de milhares de pessoas. Fazem todos os anos a festa do BODE.

Os cabaceirenses pensaram em instituir um BBB (BIG BODE BRASIL) como brincadeira adicional às já programadas para os quatro dias de folia, a exemplo do "FÓRMULA-BODE", corrida de CAPRINOS em raia, ou do "PEGA-BODE", na qual adultos e crianças tentam pegar CABRITOS soltos num cercado natural, mas optaram na criação do  "BÉ, BÉ, BODE", também denominado "BODE BELEZA BRASIL", espécie de concurso para eleger o macho mais bonito, com votação pela internet.

Mas o que pode significar a palavra BODE?  Segundo filólogos, é um substantivo masculino. Pode ser bicho (O MACHO DA CABRA, PAI DOS CABRITINHOS), sinônimo de confusão, protestante, caixinha envernizada para guardar coisas, situação embaraçosa, estado de sonolência, irritação ou depressão. O termo possui muitos significados, conforme demonstra o "VOCABODÁRIO", minivocabulário de expressões relacionadas à CAPRINOCULTURA compilado por estudantes de Cabaceiras, PB. Pesquisas orientadas pela professora Geneceuda Freitas.

Pois bem, voltando ao meu genro. Na véspera do dia santificado, chamara um CHUPA-CABRA qualquer e o incumbira de sacrificar três BODES bem crescidos; seria carne pra dar e vender. O PAI DE CHIQUEIRO não poderia ser uma das vítimas, a fim de não prejudicar o estabelecimento. Era o sujeito matando e os BODINHOS béééé, saudades dos que se iam. Havia um BERRADOR que não parava um instante sequer, era um BERREIRO assustador. Pessoal malvado aquele!

No exato dia do churrasco, saíra o Carlos do Recife rumo à Carpina, a fim de apanhar a encomenda. Dispensara tudo o que não fosse carne: Sangue, miúdos, fígado, rim, couro, pele e outras partes; queria ser agradável a mim como sempre o fora. Por sinal ele deixara crescer no seu rosto uma rala barba de BODE, nem ao menos parecida com a do chefe.

Tome pé na estrada, destino: Enseada dos Corais, Gaibu, litoral sul do Recife. Seria um arraso total. E eis que chegara radiante, não tinha pra ninguém, dispensaram-me até de comprar carne, decerto porque havia mais de 30 quilos de BODE. Seria uma BODADA pra CABRA nenhum botar defeito.

Quando me mostraram um pedaço da carne maciça, pensei comigo mesmo: Isso vai dar BODE. Um mau cheiro dos diabos, um CAPRUM. O novel criador ficara BODEADO, quer dizer, chateado, amolado, amuado, mal-humorado. Será que essa carne está podre mesmo (?), perguntara-se...Não haviam capado os pobres coitados...e tome fedentina. Esses animais também exalam mau cheiro por baixo dos chifres.

Bom CABRITO não berra diz o ditado popular. Mas bom CABREIRO não era, e sim um CABRA DA PESTE, CABRA MACHO, CABRA DECENTE, isso sem contar o seu PÉ-DE-CABRA. Lá se foram à procura de picanha, maminha, bananinha e outros cortes especiais para churrasco. Ainda bem que uma reserva havia lá em casa. Não que eu seja de criar CABRA pra BODE mamar!

Tudo resolvido, todos começaram a festejar, tomar cerveja, uísque e a mergulhar na piscina, a fim de aliviar o calor e o tempo perdido. A funcionária Zefinha, que trabalhara feito uma CABRA ARRETADA, ficara de olho na carne do BODE, embora a recomendação fosse de jogá-la fora. Com pena, a pobrezinha queria aproveitar ao menos uma parte com a sua parentada.

Pra concluir, não é que faltou energia na área! Tudo escuro, a festa estava praticamente terminada. Resolvi voltar no mesmo dia para o Recife. Dentro do carro novo, que ainda teria o cheirinho de fábrica, algo surgia no ar como que se fosse bufa, daquela bem baixinha, que ninguém ouve. Pensei, será minha mulher ou a Zefa...que fedor de lascar! ACABRA com isso gente, dissera...

Ninguém dizia nada, a Jane só fazia rir, mas não queria abrir o jogo. Pedi pra parar o carro, pois eu iria pegar carona no do meu filho que vinha logo atrás. Ele fora saber o que estava acontecendo e, em lá chegando, não aguentou...aquilo não poderia ser uma ventosidade emitida por um mortal, mas por quem já morto estava...

Pois bem, abriram o jogo...era a carne putrefata que a Zefa estava levando...e decidiram jogar no lixo, num matagal próximo...imaginem a briga dos cachorros vira-latas durante a noite...nem pensar...e com tanta barraca na praia ainda se correria o risco de fazerem cachorro quente para a clientela.

 

Um abraço.

Sem correção de texto.

ansilgus
Enviado por ansilgus em 28/12/2009
Código do texto: T2000175
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