O Computador e Eu. Como aderi à 'era da informática'.

Há umas três décadas, os computadores começaram a ser utilizados no Brasil como importante instrumento de trabalho. Maravilhosas máquinas essas que a tecnologia tem desenvolvido rapidamente. Sempre há novidades que, com avidez, são compradas pelos usuários. Os preços estão ao alcance de quase todos. Se não à vista, em suaves prestações (com juros embutidos, óbvio, por mais que neguem os vendedores...).

Confesso ter deles mantido distância por muito tempo. Não pelo fato de ser avessa a novidades, pois, se o fosse não teria estado durante a vida inteira na vanguarda. Como não é meu desejo ficar parada no tempo, enquanto os demais seguem em frente, fiquei a pensar sobre o que fazer, pois deixar de lado hábitos é difícil.

Para que eu me acostumasse a estudar um mínimo de seis horas por dia (divididas em períodos), meu grande amigo, mestre e professor de piano, Milton Figueira de Lemos, costumava dizer-me: "O hábito é uma segunda natureza". Assim, eu que desde guria (sim... sou gaúcha de Porto Alegre, tchê...), tendo os dias divididos em horas e bem

"cronometradas" para que tivesse tempo de fazer o planejado, pensei em como seria mudar não só rotina, mas hábitos. Isto certamente ensejaria uma sensação que poucas vezes senti. Meus dias sempre foram ocupados desde criança no sentido de desenvolver o "mens sana in corpore sano"(1); estudos em diversos campos, exercícios, trabalhos... Tudo a tempo e hora... e também sempre que se fazia possível, "carpe diem"(2) porque ninguém é de ferro.

Voltando ao escrever: o fato é que sentia - e sinto - prazer em ter a caneta em uma das mãos e, com a outra, manter firme uma folha de papel em branco esperando ser inaugurada com a primeira letra que nela seria escrita. Pensando bem, às vezes tinha a impressão de que o papel à minha frente aguardava-me até com certa impaciência. Impaciência essa, ocasionada por mim, ao relutar em iniciar meu ofício.

Como escrevia - e escrevo muito - mesmo sabendo qual seria o assunto entre os muitíssimos existentes e o objetivo do que deveria ou queria escrever, ou por necessidade do trabalho em si (pareceres jurídicos, peças processuais, teses, minutas, discursos, conferências, palestras, resumos de aulas a serem dadas) ou por puro deleite... (poesias, poesias, poesias...), do pensar ao sentir, ou do sentir ao pensar à ação efetiva de traçar a primeira letra, escrever a primeira palavra e completar a primeira frase, muitos minutos poderiam transcorrer até que, finalmente, à direita (descobriram, sou destra!), segurando firme a caneta, iniciasse o processo de dar a vida àquela folha que iria, no instante em que a pena a tocasse, perder a virgindade (outra descoberta: habitualmente escrevo com caneta tinteiro!)

Pronto! Comecei, estou escrevendo ...

Às vezes, as idéias jorravam com tal rapidez que era até difícil manter a harmonia e o compasso entre elas e o ato de escrever. Isto fez com que, naturalmente, começasse eu a criar uma espécie de "estenografia pessoal", pois usava símbolos vários, fórmulas químicas e o 'escambau', que ninguém conseguia ler. Penso que nem mesmo Champollion (é... o que decifrou a Pedra de Roseta), conseguiria traduzir os meus escritos.

De um lado, era ótimo, pois com a impossibilidade de serem lidas, eu poderia deixar as folhas sobre a escrivaninha (quase sempre uma bagunça organizada, mas EU sabia onde estava cada papel e documento). Pois é... deixava as folhas sem preocupação alguma de que minha privacidade - ou de meus clientes - fosse invadida. De outro lado, com tantos e sempre novos adicionados símbolos, até eu mesma, por vezes, ficava na dúvida sobre o que significavam. Minha salvação era o contexto.

Ao terminar, revisava, passava a limpo (com letra de "médico") e dava para a secretária bater à máquina. Pobre... ela era obrigada a interromper-me volta e meia por não entender-me a letra. Com o tempo acostumou-se. A rotina do trabalho era a seguinte: quando havia tudo datilografado, entregava-me a minuta, eu a corrigia e retornava a minuta para as suas mãos, para ser datilografada já com as devidas correções. Isto feito, eu tudo relia, para certificar-me de que estava perfeita, sem erros datilográficos quaisquer que fossem. Se por fatalidade tivessem ocorrido, recomeçava a enfadonha e cansativa rotina até que ficasse o trabalho a contento.

Fazer o quê? Era assim que tudo funcionava até que... fui "convencida" por uma amiga de que eu deveria usar o computador. Apresentou-me ela tantos e bons argumentos que finalmente comprei um (de segunda mão), pois duvidava, e muito, de que tal máquina pudesse servir-me. Computador sobre a mesa... agora teria que inscrever-me em uma dessas escolas? Seria perda de tempo, pois tenho facilidade enorme para tudo aprender rapidamente. Descartada a escola, preferi um "professor particular".

Escolhi pelo jornal o que mais barato cobrava a hora. Encontrei no Rio. Telefonei-lhe. Feitos os acertos, marcamos para o dia seguinte. O primeiro passo para iniciar-me na era da informática tinha sido dado. Chegava o professor sempre na hora aprazada, mesmo tendo que atravessar a baía(outra 'descoberta':moro em Niterói). Era educado, simpático, paciente e ensinou-me a lidar com a máquina. Digitar? Nenhum problema, pois estudo piano desde os 4 anos, (os leitores acabam de concluir: uso as duas mãos e os dez dedos...) ocorre ainda que, quando bolsista nos Estados Unidos, a escola determinava a necessidade de cursar datilografia, o que fiz por seis meses (o suficiente para aprender o lugar das letras no teclado).

Todos temos nossas limitações.

Breve chegou o tempo em que o pobre professor não tinha mais o que ensinar-me, pois ele também não sabia. Acaciano: só se pode ensinar o que se sabe...

Despedimo-nos cordialmente e nunca mais o vi. Espero que esteja bem. Logo iniciei a digitar, mas parecia faltar-me inspiração. Em pouco tempo, porém, acostumei-me. Quase tudo é hábito nesta vida. Ademais, "inspiração vem das entranhas do Ser. Nasce na alma e deságua no coração" (podem copiar, mas os direitos autorais me pertencem).

Autodidata nos diversos programas existentes, "desbravei" o básico para os meus trabalhos. Quanto às poesias, há uns quatro anos, têm sido digitadas por mim diretamente no computador. E isto é prático, pois facilita bastante na hora de reeditá-las, o que acontece com relativa freqüência. A caneta? Ainda a uso, principalmente para assinar documentos. Não a antiga Parker; eu a guardava com carinho, contudo desapareceu. Agora é uma MontBlanc vinho, mas pode ser uma Bic ou qualquer outra marca. O que importa de fato são as idéias a serem gravadas - e de qualquer forma. O que conta, é poder comunicarmo-nos com todos, nas formas que suas pessoais particularidades necessitem.

Referentemente ao computador, gostei tanto que, quando ocorre algum defeito que me impeça de usá-lo, me sinto como "cobra que perdeu veneno" (ninguém soube dizer-me como fica a cobra. Penso que indefesa). Sei que sem o computador, além de indefesa, sinto-me perdida.

Outrossim, informo aos prezados leitores que, já há algum tempo, sou a feliz proprietária de um computador comprado diretamente em loja especializada. Ele tem sido "upgraded" continuamente, mas tenho que reconhecer: esses cuidados todos não impedem seja ele considerado do Período Jurássico. O monitor, todavia, é dos mais modernos,bem como a impressora.

Com esses apagões todos gerados pelos péssimos serviços de energia elétrica prestados, há que ter um "nobreak" o mais 'poderoso' possivel.

Estou finalmente garantida, senhores leitores.

Dei-me de presente de Natal um LapTop com quatro 'Giga' de memória' e todos os possíveis modernos 'devices'.

Se o PC entrar em pane, certamente eu dele estarei a salvo.

(1) - "Mente sã em corpo são".

(2) - "Aproveite o dia" ou "Seize the day".