UM PERCURSO DE ADMIRAÇÃO E MEDO

Há muito tempo atrás conheci um menino que adorava caminhar pelos campos situados entre a cidade onde morava e a fazenda do seu avô. Ele tinha àquela época 9 anos de idade e caminhava 3 Km até chegar a casa grande, alpendrada, que visitava pelo menos uma vez por semana. Vivia deslumbrado com as belezas naturais e não se cansava de comentar, com os vaqueiros e familiares, sobre mandacarus, mufumbos, velames, galos de campinas, rolinhas, asas brancas, carcarás, entre tantos representantes da flora e fauna locais. E os paredões rochosos da serrinha? Ficava parado admirando os píncaros e os grotões avistados de pontos estratégicos que aprendera a identificar ao longo das suas caminhadas favoritas. Por falar nisso, a estradinha percorrida passava em um baixio entre duas elevações serranas que, segundo se comentava, era cruzada por felinos selvagens, tais como onças e maracajás. Além disso, corriam notícias do aparecimento de carcaças de vacas, bodes e cavalos, presumivelmente atacados pelos perigosos habitantes da serra. As pessoas que utilizavam aquele percurso evitavam transitar ao escurecer temendo pela perda da própria vida. Com o garoto citado não era diferente. Certo dia, contava ele que, após uma tarde de brincadeiras no paiol de algodão da propriedade, percebendo a chegada do anoitecer, partiu com o primo para enfrentar o caminho da volta. Foram correndo tentando ser mais rápidos que a chegada da noite. Ao alcançarem o ponto situado entre as duas elevações, ouviram um barulho vindo de um dos lados da grota funda. Aceleraram a corrida e só foram parar perto do campo de aviação já perto da entrada do arruamento. Só faltaram botar os bofes para fora de tanto correr. Nesse instante, o primo perguntou: ô rapaz, que estrondo foi aquele? Não obteve resposta, pois de repente caiu uma chuva torrencial, acompanhada de trovões e relâmpagos, enquanto o nosso amedrontado personagem tentava se proteger e pensar no que poderia ter acontecido. Pouco a pouco, foi se refazendo do susto e pensou consigo mesmo: como pude confundir o urro de uma onça com o trovejar ecoando no meio da serrania? Só não entendo como esse besta correu atrás de mim até aqui. Assim caminharam silenciosos até a hora que tiveram que se separar e tomar o rumo das respectivas casas.