Colheita Feliz e o natal
As ruas estão lotadas. As lojas, sem exceção, todas enfeitadas. As pessoas estão fervorosas, apressadas, correm e correm. Encontram-se e se abraçam rapidamente, estão sem tempo, tem de cuidar também da Colheita Feliz, roubar e jogar pragas na fazenda do outro. Engodar o seu porco, colher antes que o colha o que plantou. É muita pressa, muita ambição, muitos discursos vazios. Todos corem em busca de nada. Não podem perder a promoção das lojas. O filho que grita, a filha que chora: _Eu quero o meu presente de natal!
Os bancos, muitas filas, as estações rodoviárias os coletivos não param de chegar e sair lotados. Um espírito paira no ar, é a chegada do natal. O natal! O aniversário de Jesus Cristo.
É interessante ver como esta data mexe com as pessoas. O comércio lança suas promoções e dão presentes. A mídia estampa as propagandas mais sedutoras. Os empresários e empresas privadas e públicas pagam antecipado o 13º salário, um salário a mais de presente para se endividarem com cheques pré-datados e cartões de crédito.
Os supermercados na parte de castanhas, panetones, carnes ficam abarrotados e seção de bebidas também. É impressionante como as pessoas se preocupam com o natal. Com o natal consumista, não exatamente com o verdadeiro significado da data.
O encontro para mim é parte mais bonita. Há tempos não vimos nossos parentes, é o momento de cearmos com eles. Por outro lado, não haverá encontro.
Muitos já se foram e não estão no meio de nós. Foram chamados para cear ao lado do Pai e lá a festa deve ser muito mais especial. Não haverá bebedeira e nem presentes, a mídia lá é outra, sem anúncios mentirosos, sem apelo para o consumidor se endividar e se matar depois com o nome no Sistema de Proteção ao Crédito.
Sei que por aqui fica um espaço na mesa deixado pela minha irmã, lembraremos dela, ela também faria aniversário nesta data. Por outro lado ela está com o meu herói, sentada ao lado do meu pai que também foi e minha avó. A ceia deles certamente não será solitária, outras pessoas tão especiais foram convidadas. A Sônia, por exemplo, também está lá. Ela não foi porque quis, apressaram a sua subida num gesto absurdo no dia de natal. Quanto ao carrasco que praticou tal gesto que Jesus o faça refletir sobre seu insano ato.
Sônia receba o abraço do Pai e as nossas preces e aqui estamos sentindo um pouco do que você representa as pessoas que te amaram, e as que ouviram falar de você. Ensina-nos com seus gestos, sua serenidade, sua simplicidade e humildade a sermos mais sensíveis, menos egoístas, mais humanos. Ceie com nosso Pai essa data.
Então, o natal de quem está aqui, certamente é mais farto, para muitos, não para os segregados. Para os que estão à margem de tudo isso, a festa é mais pobre. Os pobres viciados e os desempregados, os encarcerados, já condenados, amontoados em celas superlotadas, não terão a sua ceia de natal. Os doentes metais, os mendigos, os hospitalizados, os idosos abandonados nos asilos, os doentes de AIDS nas casas de apoio, as nossas crianças largadas em orfanatos.
Não estou aqui a julgar ninguém, gostaria de desejar a estes também um momento de reflexão. Para mim não haverá presentes, não darei presente algum agora, estendo o meu abraço as pessoas a quem amo e desejo que Jesus nos faça melhor a partir deste dia.
Embora para uns tenha ficado no passado com o advento da Internet acho ainda o gesto glorioso enviar cartões. Com meus alunos confeccionamos belos cartões e envelopes e redigimos mensagens aos que estão à margem, entregamos e desejamos que eles recebam de Deus a oportunidade de agradecer o Seu Nascimento. Visitamos uma unidade de recuperação de menores infratores e lá deixamos nossa mensagem. Que reflitam, que não é o peru e as guloseimas o que reflete o sentido da data. Não é o que a mídia diz, e nem tampouco o Papai Noel passando com seu saquinho. O natal é simplesmente a Festa do Nascimento de Jesus. A todos que estão à margem, lá em cima e aqui, que esta data nos faça melhor, que este momento seja, o instante do perdão, do abraço e da reflexão. Que os shoppings faturem o que desejam, mas de mim nem uma moeda sai de meu bolso. Vou me isolar por hora a agradecer a Deus a oportunidade de ter convivido com pessoas neste ano tão especiais, a oportunidade de ter oferecido o melhor de mim a tantos outras, nas salas de aula. Eu só quero agradecer tudo que me aconteceu e oferecer um abraço apertado e dizer que sou grata ao aniversariante por eu está aqui e poder refletir um pouco a sua imagem.
Feliz Natal!