Doce melodia do Cine Fátima
Quando escrevi sobre as matinês do Cine Fátima, recordei, saudoso, do prefixo musical que antecedia o início das projeções cinematográficas. Aliás, cometi aquela crônica – como o faço agora – embalado pelo som dolente de um piano grave, acompanhado por percussão suave e dizia, então, que a melodia chamava-se “Doucement”.
Depois de publicado referido texto, no livro “Noturno para o sertão”, algumas pessoas procuraram-me solicitando cópia do CD, que afirmara haver recebido de presente do amigo e escritor Ronaldo José de Almeida. Diziam querer a cópia tão-somente para recordar daquela canção que nos marcou a todos, naquele momento mágico da transformação do ambiente de iluminado para escuro, passando por tênues nuances coloridas oriundas das arandelas laterais e dos “spots” localizados acima da cortina que cobria a grande tela em dimensão cinemascope.
Recentemente, recebi mensagem dando conta que a leitora Maria Clara Figueiredo achara um erro no meu livro, justamente na crônica sobre as matinês do Cine Fátima. Segundo ela, o nome da melodia do prefixo não era “Doucement”, mas sim “La petit fleur”...
Fiquei intrigado e voltei à minha fonte de informações: o próprio Ronaldo. Este, do Café Galo mesmo, ligou para sua mulher e pediu-lhe que olhasse o nome do prefixo, na capa do LP (Long Play), de Jean Paques... Logo a seguir, veio nova informação. Não era “La petit fleur”, mas sim “Vous que passez sanz me voir”...
De posse dos dois novos nomes, voltei pra casa com um só objetivo: pesquisar as duas melodias no YouTube (um site de busca de imagens e clips musicais, na internet). Encontrei as duas canções, mas nenhuma era o famoso prefixo do Cine Fátima, como eu o conhecia...
Voltei ao Ronaldo e ele, novamente, ligou para sua casa. De lá veio uma nova informação: chamava-se “Safety melody”. Pesquisei novamente no YouTube, sem sucesso. Não havia registro algum de música com este nome, mesmo pesquisando em conjunto com o nome do autor do Long Play, Jean Paques...
Mas, como não sou de deixar tema de tamanha importância de lado, continuei procurando... E eis que, estando numa noite festiva na casa da amiga Cléia Drummond, vendo sua coleção de LPs, encontro o famoso disco que continha o prefixo do Cine Fátima. Sofregamente, virei a capa e lá estava o nome exato: “Sweet melody”.
Agora, é oficial: quem quiser deleitar-se com a doce melodia (em tradução literal), sentindo-se naquele ambiente especial que era o do Cine Fátima – hoje transformado em Casas Bahia –, ficou mais fácil. Pesquisando “Sweet melody” e “Jean Paques”, no Google, você poderá conseguir um LP a preço acessível, em sebos. Como nem todos hoje têm toca-discos (talvez a maioria nem saiba do que se trata), há outra opção: pesquise “Jean Paques” no YouTube. Vai aparecer a capa do LP “Doucement” com duas opções: “Side” (lado) A ou B. Escolha o lado B. “Sweet melody” é a última que toca (inicia em 7:29”).
Assim, devidamente apetrechado, programe uma sessão nostalgia, para rever, no “DVD player”, filmes clássicos como “Dio come ti amo”, “Love Story”, “Romeu e Julieta” e “Ben Hur”. Mas toque a “doce melodia” antes. Será um gostoso mergulho no túnel do tempo.
Pena que a namoradinha, que dividia conosco um drops Dulcora, muitas vezes só exista em nossas ternas lembranças de um passado inesquecível...