O PRESENTE

Todas as semanas ela ia lá. “Dorinha faz a unha muito bem!” – disse-lhe uma amiga certa vez. Ela foi e realmente gostou do resultado do trabalho. Agora “batia cartão” toda semana, sacrifício de mulher!

Despediu-se da manicura adiantando que demoraria a voltar. As férias estavam chegando e iria viajar. Beijos e abraços de feliz natal, ano novo cheio de realizações, patati patatá!

Já na rua, Ana, filha de Dorinha, a alcançou e entregou-lhe uma caixinha. Ela agradeceu encabulada. “Que amor de menina é essa Ana” – pensou, já se preocupando com o que poderia dar a ela como retribuição pelo agrado tão carinhoso.

Um brinco? Pode ser. Pelo tamanho da caixinha, parecia. E com esse papelzinho de presente, como ficou meigo! Começou mesmo a se envergonhar. Nunca tinha pensado em dar um presentinho àquela menina, nem sequer notava muito sua presença enquanto estava no salão improvisado na sala de visitas. “Ana é mesmo um amor”. Lembrou-se de umas vezes em que a garota se estranhou com a mãe na presença dela. Tinha até comentado o fato com uma vizinha. Mas eram coisas da adolescência, não é mesmo? Essa fase é de amargar!

Olhava ainda curiosa para o embrulhinho. Não tinha como abrir, poderia estragar a unha recém feita. Sua casa não era longe, dava para esperar, o marido ou a filha abririam para ela e, aí sim, saberia o que se escondia dentro daquela caixa.

Enfim, chegou. Para sua angústia, não havia ninguém em casa.Foi para frente da televisão esperar a unha secar. A filha apareceu. “Olha só como a Aninha é! Que gracinha de menina! Me deu um presente de natal, um agrado! Tá vendo como existem pessoas tão diferentes de você? Gostam de agradar aos outros, não é igual a você que não liga a mínima para ninguém, principalmente para mim. Nunca pensou em me fazer um carinho desses, preciso receber de um estranho, que não tem nada a ver comigo, nem meu sangue tem!” Ficou nesse blábláblá tão chato, que a filha saiu para rua, gritando lá de fora: “Tô indo ali!”

Sobrou! Mais uma vez sobrou! O jeito era esperar o marido chegar do trabalho! Já estava quase na hora.

O pão cheirou lá na sala, é ele que vem vindo do trabalho, passou na padaria, como sempre. (Ai, meu Deus, já tem uma sacola de pães no forno, dormidos, mas ainda estão bons, e os passarinhos não estão dando conta deles).

- Olha aí em cima da mesa, tem um embrulhinho de presente que ganhei da Aninha, filha da Dorinha, minha manicura. Ela não é uma gracinha? Será o quê eu posso comprar pra ela, hein? O que você acha? Não é um carinho o que ela me fez? Estou louca de curiosidade pra ver o que é, abre pra mim?

Pegou a caixinha, balançou, não fez barulho sequer. Estranho, pensou ela, então não deve ser brinco, que será, então? Ele, com todo o cuidado, foi abrindo o papel de embrulho. Era, sim, uma caixinha delicada. Era uma caixinha diferente. Aberto o embrulho, desfez-se a curiosidade, e a empolgação. Dentro da caixinha estava escrito: “Ajude na Caixinha da manicura doando R$________ para ela ter um Natal mais feliz!”

O sorriso dela se dissipou dos lábios. Seu olhar encontrou com o do marido, mas não conseguiram se conter: a gargalhada foi certeira!