PIADA SEM GRAÇA
Prova.
Recuperação.
Resultado final.
Final de ano.
Natal.
Férias.
Para quem trabalha na educação isso se chama rotina, todo ano é a mesma coisa. É comum encontrarmos os mais experientes instruindo os calouros quanto ao preenchimento de diários, atas, ensinando fazer colagem.
- “Você precisa recortar de um diário virgem a mesma página, se não, não dá certo” - Diz a tia veterana.
- “Ah, eu nunca fiz isso” – diz a caloura.
- “Deixa eu te mostrar como é” – responde a primeira.
Mas há um clima diferente nesta escola, especificamente. Todos os professores contratados temporariamente (conhecidos como DT’s) passaram por uma avaliação. Imaginem só: freqüentaram os bancos da academia durante quatro longos anos, teorias e mais teorias, avaliação à cada disciplina, estágio de observação, estágio de co-participação, atividades práticas (tantas quanto semestres/períodos), seminários intermináveis, pesquisas, monografia, banca, mais avaliação, pós-graduação, mais pesquisa, mais banca, mais avaliação. Ufa! Cansei! E agora, quando deveriam exalar sabedoria, são reprovados. Quando deveria colher os frutos de um ano escaldante, decepção. REPROVADOS!
Alguns mestres acumulam 10, 15, 20 anos de prática escolar, outros muito mais, desenvolvendo magnificamente sua profissão, que transcende ao mero profissionalismo, em alguns casos são verdadeiros dons. Participaram da formação moral e acadêmica de médicos, advogados, professores... (a lista é imensa). Agora, no finalzinho do ano, prestes a gozar férias com a consciência do dever cumprido, recebem uma bomba: foram reprovados.
“Reprovados em quê?”; “Quem avaliou?”; “O que avaliou?”; “Como explicam a lista que circula todo o Estado com seu nome, seu bem maior, sua reputação, sua carreira?”; “Como foi a avaliação?”; “O que foi avaliado?” – são algumas das perguntas que gravitam na mente destes educadores.
Palavras eloqüentes não apagam as marcas do escândalo que esta ou qualquer “avaliação” inescrupulosa tem o poder de causar. “Processem-me”, “recorram, mas acho que não vai adiantar” - MENTIRA! Isso é exatamente o que querem que pensemos.
- “Tenho a consciência tranqüila que não fui injusta com ninguém”. - mentiras e mais mentiras!
O quê pessoas frígidas, cadavéricas, envolta em mortalhas da burocracia, entendem da prática vivifica de professor, que ensina para a vida. Sim, sou consciente que nem todos merecem tal elogio ou crítica, mas como minha vovozinha (que Deus a tenha!) sempre dizia: “se a carapuça servir...”.
Pensam que nós DT’s somos o quê? Bode expiatório? Papel higiênico? Para sermos usados para limpar a sujeira ou como desculpas de um sistema em decadência?
“O Espírito Santo é o estado que mais investe em sistema penitenciário” – Pena que os verdadeiros bandidos ficam fora deles.
Mas que orgulho medíocre. Investir em penitenciária. Porque não investem em formar cidadãos ao invés de reformarem bandidos? Todos sabem onde deveria concentrar maior parte dos investimentos governamentais: EDUCAÇÃO. Preferem investir em armazenar bandido a educar pessoas. Preferem comprar colchões novos a cada rebelião, que investirem em um ambiente confortável, ou no mínimo refrigerado, para estudarem as cinco intermináveis e exaustivas aulas. Perdoem-me se ofender, mas creio piamente que a vida se estabelece em três pilares: Família, Religião e Educação. Se falharmos em alguma delas: presídio lotado.
“Quem é o PROFESSOR BANANA que deixou o aluno olhar pela janela?”; “por favor, deixem seus diários certos porque todo ano precisamos ligar para professores virem fechar os diários, mas não são PROFESSORES DE MERDA, não. São professores bons”. O quê?!? Professores o quê?!? Recuso-me a acreditar que fomos chamados assim e ficamos calados. E o pior, você ficou calado (a) e ainda foi reprovado (a). Por acaso você é “professor banana” ou “de merda”? Faça-me o favor!
Enquanto formos tratados assim e não fizermos nada, honraremos tais adjetivos.
Valorize-se!
Tenha um pouco de dignidade. É o seu nome que percorre todo Estado dizendo: REPROVADO.
Mas o ápice de toda essa comédia, malfadada, diga-se de passagem, é o discurso de final de ano.
Palavras que nunca deveria estar juntas: Hipocrisia, demagogia e Feliz Natal.
Bom, as duas primeiras não são pronunciadas, mas são reais, tem nome e sobrenome. Correm nas veias de profissionais sem ética, sem escrúpulo, que assinalam na avaliação que os professores não zelam pelo patrimônio da escola, dentre outras asneiras. Asno mesmo é quem considera tal avaliação e ainda a publica.
FELIZ NATAL. É o que a escola, que reprovou, publicou e difamou vocês, desejam a todos. E um próspero ano novo. Que no próximo ano as bananas amadureçam, e que as merdas vão para o esgoto.
Ah, professor, lembre-se: “A avaliação foi apenas para dar um sacode em você, para você refletir sobre suas praticas pedagógicas” (será que ela sabe o que é isso?) e zelar pela escola, não quebrar as cadeiras, depredar o laboratório de informática (esse foi um dos quesitos em que você foi reprovado)... Que piada sem graça!