A menininha no ônibus

_ Clarinha… Segura firme, senão você cai!

_ Mamãe…

_ Sim, meu anjo!…

Foi hoje à tarde. Estava muito calor. Eu estava muito cansado. E ainda não estava indo pra casa… Tinha ainda uma reunião num bairro distante.

_ Mamãe, dentro da sua barriga tem uma… uma sementinha?

_ Tem sim…

_ Que foi… que foi o papai que colocou, né?

_ Foi.

_ E vai crescer e crescer… e virar o meu irmãozinho!!

Ela não aceitou o acento que ofereci. Não a Clarinha, mas sua mãe. Recusou, disse que o ponto em que iam descer estava próximo. Recusou. Mesmo carregando a sementinha na barriga.

Deveria ter insistido mais. Com toda a certeza. Mas nem foi o cansaço que me impediu; foi a falta de jeito mesmo, perante a simpatia daquela mãe. O cansaço já tinha ido embora. Ou melhor, ainda estava lá… Mas o sorriso daquela menina deixou-o muito mais leve, e – por que não? – prazeroso…

_ Segura, meu anjo! Segura firme!

É nessas horas que eu gostaria de conseguir ser um pouquinho mais extrovertido com estranhos, insistir em algo que é óbvio: aquele lugar não era meu, era daquelas duas que estavam ali em pé, espremidas no ônibus cheio, e do garotinho-semente que, apesar de provavelmente estar mais confortável que todos nós ali, também merecia sacudir um pouco menos. Mesmo que os lugares reservados para grávidas estivessem lá na frente, ocupados por estudantes que conversavam, animadas. A barriga ainda estava pequena, vale dizer; provavelmente só eu, enxerido ouvindo a conversa alheia, havia percebido que tinha uma “sementinha” ali dentro…

Mas não deu tempo de pensar muito mais. Clarinha logo desceu com sua mãe, me deixando um sorriso no rosto, e um pequeno peso nos ombros por não saber como retribuí-lo…

O mínimo que posso fazer, pensei depois, é tentar passá-lo para frente. Não vai ser a mesma coisa, mas pelo menos é uma tentativa.

Que nossa semana seja, então, repleta de sorrisos de crianças! Se não de verdade, ao menos simbolicamente…

TEXTO PUBLICADO NA OBRA "COMPREI JUJUBA!" - www.compreijujuba.blogspot.com