BANHO DE GATO

A minha sogra reclama do seu marido não gostar de tomar banho. Desde quando eu namorava sua filha Maria Mari (e lá se vão mais de 34 anos), ouço ela dizer que o Nèginho costuma lavar os pés antes de se deitar, mesmo assim depois de muita bronca por parte dela. E às vezes nem lava, apenas raspa a sola de um pé na sola do outro.

O meu sogro apenas sorri, não confirma nem desmente a mulher. O fato é que o capixaba parece ter medo de água.

Dia desses, chegam em visita um sobrinho seu, o Ivan, também nascido em Alegre/ES, com a mulher Vera e a mãe Rosilda. Pousaram na casa do sogrão.

Como de hábito, fez-se romaria dos parentes de Belô à casa da Dona Geralda e do Seu Néginho, para cumprimentar os ilustres visitantes, prosear e botar o papo em dia.

Eu estava lá, no começo da noite, o pessoal todo na sala defronte à televisão (máquina de fazer doidos), assistindo com interesse mais um capítulo da novela “A Indomada”.

Num intervalo da novela, o Ivan se levantou e disse:-

“- Roberto, com a sua licença, vou tomar um banho e já volto.”

“- Esteja à vontade, Ivan.”, respondi, continuando ali junto com os demais, aguardando o reinício da novela.

Os comerciais de propaganda ainda não haviam terminado, o intervalo também não e eis que surge o Ivan na porta, o cabelo molhado e penteado, de camisa trocada, a mesma calça, de chinelos:-

“- Prontinho, estou novo em folha!”

“- Mas não é possível!”, exclamei. “- Você parece o “ The Flash”, o homem mais rápido do mundo!”

E o Ivan, sorrindo amarelo:-

“- É, prezado, com o frio que está fazendo não se pode abusar, né?”

“- Em parte, você tem razão, primo! Mas uma coisa é certa:- definitivamente os homens desta família não são lá muito chegados a um chuveiro. São especialistas, isso sim, em banho de gato! ...”, arrematei, para riso geral.

-o-o-o-o-o-

B.Hte., 23/06/97