Texto para o dia das aves em festas e provas de amor.

Alexandre Menezes

Por mim não sofre o peru: ave meio “veadinha” que fica a passear fazendo GLUGLU, levantando e abrindo suas penas traseiras para tentar seduzir uma fêmea. Que falta de jeito. Além dessas características, passou a ser sacaneado por teorias reacionárias de alguns humanos que procuram problemas em tudo. Querem boicotar o consumo das aves de laboratório e aumentar a matança do pobre.

Alegações até pertinentes. Está certo que, segundos eles, as pobres dessas aves sofrem com cãibras nas pernas e dão rolamentos a cada três ou quatro passos. Viver com 65% do peso do corpo distribuído entre peito, pernas e bunda só deve ser fácil para aquela moça que insiste em colocar cada vez mais silicone e reconstituir o cabaço. Infelizes vidas e destinos das penosas, mas mesmo assim eu como. Já sobre o cabaço reconstituído não sei dizer. Apenas duvido que alguém o reconstitua para presentear micróbios e humos.

Será se querem inverter tudo? Teremos mesmo que proteger os bichos da ciência e devorar os da natureza? Sei não. Os homens criam as coisas por gostos, necessidades, fetiches... Aviso logo: se acabarem com as aves das carnes nobres em excesso eu é que não fico com o pescoço, asa, costela e bagaço. Os Perus são diferentes dos cabaços que foram feitos para desaparecerem um dia, só que desses eu tenho um certo receio.

Ninguém se importa com um peru. Deve ser porque ele não tenha alma. Já os cabaços têm espíritos e eles baixam nos corpos femininos e, muitas vezes, passam anos fazendo cobranças e alegando que foram enganadas por um cafajeste. Nossa! Como carrego de cabaço gruda. Ou demora ou não desencana. Usa o cavalo-de-santo até sua morte. Parece que é herança genética espiritual: quem nasce com um e perde, mais cedo ou mais tarde, incorporará o espírito chato.

Noites de ceias são bem parecidas. Algumas pessoas pregam o perdão e fazem promessas parecidas todos os anos. As aves vão para panelas e travessas, para os buchos e depois somem pelos canos. Presentes são dados, sugeridos e escolhidos. Só tome cuidado se o presente for aquele patenteado como “a prova de amor”. É que após perecerem podem dá uma dor de cabeça. Caso não tenha jeito: cachaça para o peru, canção para o danado do espírito subir tranqüilo e torça para que seu santo seja mais forte.

Alexandre Menezes
Enviado por Alexandre Menezes em 23/12/2009
Reeditado em 24/12/2009
Código do texto: T1992962
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