Agonia de uma santa
A dor é profunda. Choro, rio, balbucio palavras amorosas para o nada, pois apenas o nada me aguarda.
Eu, eu mesma, eu própria: 3 pessoas em uma só. Só solitária, só abandonada, só preterida, só esquecida, só dor e lágrimas.
Choro porque tenho vontade de morrer. Quero esquecer todos os dias miseráveis que vivo dia após dia. Eu bebo, fumo e choro tentando achar alguma esperança. Meus olhos observam a paisagem, mas nada vêem.
Perdi uma parte de mim, meu âmago, meu esteio. Balanço ao vento sem ter para onde ir.
Choro porque meu mundo desaba e nada posso fazer. Observo estática o rumo que minha vida toma, e pouco ligo para onde o vento me leva, apenas sinto sua ausência.
As coisas se misturam, acumulando pesadelos que se tornam reais. É estranho ver meses de infelicidade saindo pelos olhos. Estou triste; sim, estou acabada. Sinto falta de muitas coisas. São tantas as tristezas acumuladas....tantas as lágrimas contidas...
A cabeça parece explodir; mente vaga, olhar perdido: quando foi que este monstro nasceu?
Ele vive, pulsa dentro de mim, devora a pouca sanidade que me resta.
Sofro, choro, gemo de dor. Se antes sorria, hoje cuspo sangue. Pensamentos macabros crescem em minha mente, quero que o fim chegue logo. Quando é que isso vai acabar?
Os dias passam devagar. Faz tão pouco tempo, e mesmo assim parece uma eternidade. Não sei precisar meu nível de demência; apenas sofro estarrecida, e um filete de sangue escorre pelo canto dos meus lábios. É meu amor morto, meu pequeno feto expelido pela dor que sinto.
Como uma santa, toco o irreal. Atinjo os céus e os anjos cantam. Finalmente...o fim! Meu glorioso fim, onde poderei enfim descansar e respirar livre da opressão em meu peito, daquela taquicardia maldita, daquele furor demoníaco em meu coração, que batia por você e agora jaz inerte na caixa torácica entre meus pulmões.
Estou podre, estou abandonada. Perdi tudo o que valia em minha vida: você, você e você.
Sem você, os dias viram infindáveis noites, e nesse vale de lágrimas piso em espinhos e não sinto nada. Por essa Via Crusis, perco sangue e não percebo, definho e não me importo: são coisas da vida. Carrego minha cruz, mas, ó, é tão pesada...
Rezo para que os céus me levem quando minha hora chegar. Quero a paz celestial e o consolo de uma vida amena. As desgraças vêm, elas nunca param de chegar. Mas eu sofro e não agüento mais tantos socos. Rastejando, fujo dos chutes do destino. Onde está a altivez de sempre? O orgulho? Isso não existe mais: sou uma pobre criatura da terra, e os vermes comerão meus órgãos quando a Morte me pegar. O fim....meu glorioso fim!