Texto para um dia após o outro de carinho.
Alexandre Menezes
Meia hora após o fim, ele, ainda assim arrepiava por qualquer palavra dita mesmo que fosse despretensiosa. Ela, sabedora disso, explorava o valor de cada fonema que soprava levemente, quase igual a uma brisa, por toda extensão de sua pele. Também explorava cada grafema que desenhava com as pontas dos dedos, língua.
Um corpo estirado que não mais suportava carícias no momento e, sobre ele, a travessa dona de pares de lábios maravilhosos. Um deles permanecia a declamar um depravado flash back maldosamente sussurrado. Já os outros, roçavam de forma libidinosa sua face à procura de respostas que queria.
Enquanto a moça insistia em fazer cobranças arrepiantes, o espírito dele eriçava na mesma constância e proporção dos seus pelos. Falo que não respondia não por falta de forças, mas pelo uso delas. A epiderme esbranquiçada indicava que o sangue mal circulava para manter vivos cérebro e coração.
Passado um imensurável período de tempo, com o corpo dormente, percebeu o sangue circular novamente. Seus afluentes deram o merecido volume, por ela esperado, para aquele desejo perene. Almas, desejos e corpos foram agraciados com sonhos, líquidos, e descanso. Sucumbiram.
No outro dia, ao acordarem, os corpos exigiam reais alimentos. Sintomas denunciavam não de tratar apenas de delírios. Nele, uma ardência similar à queimadura ou pós-cirurgia. Nela, a confirmação de que a subjunção que faz, num susto, os ombros e as orelhas se unirem foi real.
Sorriram, alimentaram-se e voltaram para cama. Foram descansar num prazer diferente. Com o olhar voltado para o céu, ele a tinham com a cabeça sobre o lado esquerdo do peito. Às vezes, de rabo de olho, a observava enrolando carinhosamente os pelos do seu tórax e permanecia num sorriso bobo. Carícias que eram retribuídas em sua nuca inconscientemente. Viviam a outra parte do sonho.