CRÔNICA- É NATAL- QUEM ACREDITA EM PAPAI NOEL?

Pela época do Natal, sempre me lembro de um acontecimento de infância: eu era bem pequena e passava férias na casa de minha avó materna, numa fazenda bem distante da cidade.

Era noite de Natal, e caía uma chuva torrencial. Minha avó me disse:

_ É bom você pôr seus chinelinhos debaixo da cama. Está chovendo muito e pode ser que Papai Noel não possa trazer um presente muito grande, mas qualquer coisinha ele sempre traz...

No dia seguinte, ansiosa, pulei da cama e olhei os chinelos sob a cama. Maravilhada,vi que o Bom Velhinho tinha passado mesmo! Lá estava um delicioso pacote de bolachinhas!

Que surpresa espetacular! Então ele existia mesmo, pois a fazenda era tão longe, num lugar tão difícil de chegar! E depois com aquela chuvarada toda, aquela escuridão e aqueles caminhos esburacados... Só mesmo quem viesse voando, puxado pelas renas!

Um dia pude compreender. Minha avó, para não deixar morrer minha fantasia, certamente mandara vir com antecedência do povoado mais próximo, aquelas bolachinhas que me fizeram tão feliz.

No fim do ano passado, uma menininha, minha aluna, veio me perguntar:

_ Tia, Papai Noel existe? Perguntei pra minha mãe e ela disse para eu te perguntar.

Entendi o dilema da mãe, que não soube como responder pergunta tão crucial para uma criança que estava crescendo. Não tive dúvidas, ao lembrar da minha avó:

_ Isso depende de cada um. Alguns querem acreditar, outros não. Ele vai existir até o dia em que você desejar...

Ela se foi toda feliz. Vi que ela queria continuar acreditando. Por mim, também gostei que ela quisesse acreditar, pois eu mesma vi Papai Noel no último Natal. Exatamente à meia-noite, ele desceu pela estradinha de acesso ao sítio onde eu estava com minha família. Apareceu num clima mágico, vestido a rigor, tocando um alegre sininho. Vinha numa charretinha enfeitada em cores natalinas, puxada por um cavalinho manso, direto das terras da fantasia.

Devagar ele parou diante de uma plateia contagiada pela emoção de vê-lo tão pertinho. Os olhinhos de meus sobrinhos extasiados revelavam: Papai Noel era de verdade, estava ali. E ele era tão diferente dos Papais Noéis comerciais, de imagem tão desgastada, gritando pelas ruas e lojas ou na TV, querendo apenas que todos comprassem e comprassem.

Aquele ali, diante de nós, era terno, tranquilo, com uma doce voz de tio disfarçado. As crianças, tomadas pela emoção, sequer o reconheceram. Estavam muitos mais interessadas em contar-lhe coisas e ouvir o que ele tinha a dizer. Tudo tão ingênuo, tão irreal.

Depois de distribuir presentes e carinhos, Papai Noel teve que partir. Ainda tinha que rodar o mundo inteiro. E lá se foi tocando seu sininho, sob o olhar maravilhado dos pequenos, até sumir na escuridão.

Certamente, aquela lembrança jamais irá se apagar para os olhos que a viram. Sobreviverá até que quem a viveu queira nela acreditar.

MARINA ALVES
Enviado por MARINA ALVES em 22/12/2009
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