ALTERNÂNCIAS …

 

       Não estava me sentindo muito bem. É bem verdade que, graças a Deus tenho uma invejável saúde mas naquele dia não estava me sentindo nada bem .

     Não sei explicar exatamente o que estava sentindo, o que me incomodava. Era uma espécie de vazio misturado com uma pitada de tristeza e solidão.

       E o pior de tudo é que não estava com vontade de falar com ninguém e até cheguei a desligar meu celular. Era um daqueles dias em que você sente falta de tudo e de todos , mas entretanto prefere ficar sozinho. Por conta disso recusei o convite para passar pelo barzinho, aquele dos bolinhos de bacalhau, para uma confraternização com velhos companheiros e preferi andar sem rumo.

      Sem saber onde ia chegar acabei parando num imenso parque de diversões. A noite estava linda, uma suave brisa trazia para o ambiente um cheiro de grama úmida e atraído pelas luzes e a algazarra dos jovens e crianças acabei entrando .

       Fazia muito tempo que não ia a um parque como aquele. Caminhei por entre os brinquedos, comi um enorme palito com algodão doce colorido, que aliás adoro, como também experimentei um saco duplo de pipocas de chocolate, que na verdade eram as pipocas habituais mas muito bem incrementadas com chocolate derretido.

      Aquele ambiente, a alegria no rosto das pessoas me fizeram bem, me contagiaram e procurando observar atentamente o que  acontecia ao meu redor sentei num banco bem em frente a montanha russa e prestei a atenção nas pessoas que disputavam um lugar naqueles carrinhos.

       Também não me lembrava da última vez que tive a coragem de enfrentar uma montanha russa mas, não pude deixar de admirar a  forma despreocupada com que aqueles passageiros, que aos risos apertavam os cintos, aguardavam ansiosos a partida dos carrinhos.

      As montanhas russas são extremamente interessantes. Os vagões começam a deslizar suavemente, sobem uma rampa  íngreme com enorme dificuldade e a partir da sua chegada ao topo a velocidade na descida brusca aumenta e o comboio faz incríveis piruetas para delírio dos que estavam nos vagões e dos que assistiam extasiados aquela viagem que na verdade, foi feita só para os corajosos e os que têm estomago forte.

       Olhando a subida, as descidas e as reviravoltas daquele brinquedo comecei a pensar na minha vida. Sem querer dar a impressão de que era mais um dos meus delírios, comparei cada subida, cada descida e aquelas piruetas aos fatos das nossas vidas.

        Às vezes alcançamos o topo com enorme dificuldade e sacrifício e quando lá chegamos, por descuido, incompetência ou por não estarmos preparados para ali permanecer, caímos numa descida muito  mais veloz do que qualquer subida.

       Entretanto, se pensarmos bem, a cada descida, a cada queda, na verdade estamos pegando embalo para subir de novo, para alcançar novamente o topo onde então, lá estarão muito bem guardadas as nossas conquistas e as nossas vitorias.

         Não pude evitar um breve sorriso ao fazer a comparação. Eu ali, sentado num banco , me sentindo solitário no meio de uma multidão de pessoas barulhentas e alegres de repente percebo, pelo exemplo da montanha russa, que a minha vida tem altos e baixos e que os baixos não passam de motivos para embalar nossas novas subidas.

         Tudo bem que os carrinhos daquela montanha russa fizeram incríveis piruetas e por alguns instantes deslizaram pelos trilhos com os passageiros de cabeça para baixo. Na minha vida também ocorreram várias piruetas e em algumas delas cheguei a ficar de cabeça para baixo mas, interessante, mesmo depois das acrobacias consegui me reerguer, enfrentar mais algumas subidas e quedas e como o pequeno trem , também cheguei a alguns dos meus destinos isto é, onde deveria ter chegado.

          Eu estava com a alma muito mais leve pois via claramente que os vazios, as tristezas, as angústias e os infortúnios são como aquelas descidas da montanha russa. São descidas, claro , mas logo a frente surgem sempre novas chances para subir.

          Terminei com o saco de pipocas e decidi voltar prá casa. Estava me sentindo bem melhor e ao sair não pude deixar de observar uma fantástica roda gigante que também estava com os bancos lotados.

           Como a cada instante entravam e saltavam passageiros, alguns bancos por momentos ficavam na parte baixa e em outros tantos ficavam no topo. Ora bolas, pensei com meus botões, mesmo que hoje eu esteja me sentindo mal, meio vazio, triste e solitário, apenas significa que , quem sabe só por pouco tempo estarei naqueles banquinhos que ficam na parte baixa da roda gigante.

           Amanhã, quem sabe daqui a pouco, certamente estarei situado nos bancos mais altos, onde poderei vislumbrar uma magnifica paisagem e, claro que vou descer novamente mas, pode demorar um pouco e além disso, como eu percebi, toda descida não passa de um grande embalo para uma nova e melhor subida.

         Resolvi religar o celular, aproveitei  e liguei para os colegas pedindo para me esperarem no barzinho e para não perder a viagem, comprei outro sacão de pipocas com chocolates em calda.......

 

 
Roda Gigante da China


                                                                                                            

(....imagens google.....)

WRAMOS
Enviado por WRAMOS em 21/12/2009
Reeditado em 23/02/2013
Código do texto: T1989638
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