SEXO OU AMOR?
Era noite, uma noite mais fria que todas as outras. Duas doses de tequila, a noite esquentou como o “dia de amanhã”, o instinto de toureiro mexicano baixou em mim. Se aparecesse um touro, por mais arroubas que ele tivesse eu o derrubaria pelos chifres, amarrava suas patas depois o matava para fazer dele um bom churrasco. Tudo isso para minha amada ver o quão forte sou, e que, por ela, animal nenhum é capaz de me vencer, avalie um homem!
Era uma noite na praia, o mar beijava nossos pés, o barulho das ondas chocando-se com as pedras do calçadão fazia uma barulho que sequer numa noite fria como aquela precisávamos de música. Bastava ela, o mar e eu. Assim tínhamos o corpo, o nosso teatro, o drama, a trama, o riso, o choro e a canção. Um bom vinho tinto fino meio seco na mesa, o joguei na parede, fiz estilhaços e tomei mais uma dose de tequila... finalmente o abraço e o mar nos aplaudindo. Ali mesmo a beira mar fizemos amor na areia que nos envolvia, seus cabelos voavam, a cada sorriso seu e olhares fortes com o sedento desejo prazer, era um orgasmo do meu coração... meu corpo esqueceu até de meus testículos! Como todo amor, imundo. Mas um amor que fazia a lua derramar suas lágrimas ao mar com o ciúme do nosso prazer! Assim como todo sexo, sujo...
... O sexo é um flagelo de dores em meio à imundície, por isso o orgasmo é um prazer tão súbito e uma felicidade disfarçada, mascarada pelo instinto da sobrevivência. Sem amor posso até existir, mas sem sexo, nem o rato mais asqueroso no esgoto mais imundo consegue viver. O amor só é esse algo tão belo e tão inatingível porque ele vem injustamente, com a hipocrisia prometendo felicidade. O amor poderia ser mais simples se nos bastasse o riso, o prazer e os olhos, que por sinal, explicam bem mais que a língua.
... O sexo tem mais amor do que o amor próprio imagina ter. E o amor alheio, não tem sequer uma gota de sexo próprio. E por mais que seja o sexo imundo prostituto e barato, ele finda sempre no gozo de uma alegria breve, breve.
Minha dúvida é: alegria é o mesmo que felicidade? Taí, é por conta disso que toda amargura do amor se torna mais prazerosa... por mais que o sexo lhe dê o orgasmo; o gozo mesmo, vem em acordar ao lado de quem se ama mesmo sem ter feito sexo!
Ah... no final, acordamos ali mesmo na praia, já era dia, um dia mais quente que todos os outros, ela vestiu suas roupas, eu vesti as minhas, em meu bolso traseiro molhado pela lâmina da onda, Otto Lara Resende ou bonitinha, mas ordinária de Nelson Rodrigues me dizendo: “escuta. No Brasil, quem não é canalha na véspera, é canalha no dia seguinte”. O pior, é que dessa vez não fui canalha em nenhum momento. Simplesmente bêbado com a paixão de uma única noite. Como havia dito, vestimos as roupas. Ela se virou para a direita com um tchauzinho pesaroso, eu até me virei para a esquerda, pensei em ir, mas decidi me jogar ao mar com roupas e tudo... as páginas do livro, molhadas, soltaram-se e meu dia esfriou como a noite de ontem!
Naquela escuridão toda, o amor mais sincero que tive foi a tequila, o limão e o sal. Afinal, todo amor é amargo assim...e da mesma forma, sua ressaca faz a cabeça doer e o estômago embrulhar....
... O amor tem tudo a ver com o copo da bebida, embriaga, mas causa ressaca e calafrios. Assim como o sexo tem tudo a ver com um prato de comida, mata sua fome mesmo com a certeza que novamente ela voltará!