Sobre lagartos e sexo

É... Porque se as espécies não procurarem sempre por sexo elas acabam desaparecendo do planeta. Hoje, pela manhã, a caminho do trabalho a passos médios de homem médio, vi um pequeno lagarto solitário entrando no mato. Assustou-se comigo. Aquele estado de aparente paralisia do bicho seguida de um rompante de velocidade em direção ao mato indicava que ele estava a exercitar seus instintos básicos: naquele instante o medo. Foi pro mato. Medo da rua, medo do quase-desconhecido (mal sabia ele que eu só queria olhá-lo). Mas o mato é melhor pra ele. No mato tem comida, abrigo e... sexo. No mato tem sexo. Não negar ele o sexo faz parte de ser lagarto. Puxa vida, pensei: o medo que ele teve de mim o levou imediatamente para o local onde ele encontra comida e sexo.

Penso às vezes que a gente faz tanto adorno cultural pro sexo que acaba o dessexualizando. Essa vida tão cheia de objetos, planos, pensamentos impessoais... que acabamos por tornar-mo-nos impessoais. Uns não-nós. Ser um não-eu está atrelado à minha dessexualização. Só que ir em busca do “eu” não é mole. Pois, afinal, pra onde eu iria? Pro útero materno? Lá eu seria eu?

Talvez as pessoas precisassem sentir o mesmo medo do lagarto que correu pro mato em busca daquilo que mais importa no final das contas: ser lagarto. Pra ser lagarto, pra existir como lagarto, é preciso reproduzir-se como lagarto. É preciso ouvir a voz do medo e do sexo. A vida é medo e sexo.

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