Fim de ano e nostalgia

          1 Os fins-de-ano me fazem um sujeito nostálgico!
          Por isso, não estranhe o caro leitor se me encontrar por ai economizando sorrisos; eu que sou bom de gargalhadas e todo mundo sabe disso. 
          Incrível! Sinto saudades de tudo e de todos...
          Encho-me de saudades até - pasmem! - quando olho paras as micro-lâmpadas coloridas e irrequietas que, nesta época, alindam a fachada do meu prédio; luzes do Natal; desejando "Boas festas!" a quem vem e a quem vai.
          Por mais que me esforce para lhes não dar essa conotação, os fins-de-ano, tem sempre para mim um sabor de despedida.
          2 Nos últimos tempos, tenho atravessado os dezembros, e a verdade precisa ser dita, me fazendo a mesma pergunta, que é esta: será que este foi o meu último ano de vida? Bobagem, né mesmo?
          Num desses dezembros, não sei bem de que ano, cheguei a minutar o meu Testamento, confirmando o desejo, muitas vezes declarado, de não morrer ab intestato, como escrevem nos seus petitórios os coleguinhas advogados, pouquíssimos por sinal, que ainda se lembrar do velho e respeitado Latim.
          3 Mergulho num deplorável estado de nostalgia exatamente no momento em que todo mundo, bebendo seu bom champanhe, renova suas esperanças no ano-novo; ano-novo, sim, com hífen e em minúsculo como ensina o professor Luiz Antonio Sacconi, nas suas gloriosas gramáticas.
          4 Mas me recordo que nem sempre foi assim.
             Houve um tempo em que o novo ano ou me encontrava dormindo o sono dos tranquilos, porque bem com a vida, ou com a cuca ensopada de cerveja. Aplaudindo, sem cerimônia e restrições, o que mais detesto na hora da virada, ou seja,o foguetório oficial irreverente e massacrante. 
          E quando os acordes do Hino Nacional  (não o cantado por Fafá de Belém, claro) invadiam o céu do novo ano, eu me diluía em discretas lágrimas carregadas de saudade... Bobão, hein?
          5 Por que mudei tanto,não sei dizer com segurança. Hipóteses, hipóteses e nada mais. 
          Mas vou disfarçando como posso. Entrego-me, por exemplo, ao deus Baco, confiando-lhe os meus mais escondidos segredos e pesarem que incomodam.
          Segredos que até podem ser revelados mas somente quando eu morrer completamente; "de corpo e alma". Como no poema de Bandeira: "Morrer tão completamente/ Que um dia ao lerem o teu (meu) nome num papel/ Perguntem: "Quem foi?..."
          6 O fim-de-ano (perdoem-me os hífens), apesar dos nostálgicos e melancólicos andarem semeando tristezas e desalentos, é tempo de refletir sobre a vida; a que levamos e a que pretendemos levar, a partir do primeiro sopro da brisa nova, que chega com o novo ano.
     Afinal... "A vida é uns deveres que nós trouxemos
                 para fazer em casa.
                 Quando se vê, já são 6 horas: há tempo...
                 Quando se vê, já é 6a. feira...
                 Quando se vê, passaram 60 anos!
                 Agora, é tarde demais para ser reprovado...
                 E se me dessem - um dia - uma outra
                 oportunidade,
                 eu nem olhava o relógio
                 seguia sempre em frente...
                 E iria jogando pelo caminho a casca dourada
                 e inútil das horas."
          Com este versos do Quintana, que acabo de receber de uma amiga cearense - tão romântica e iluminada como o pôr-do-sol de Fortaleza - vou saudar 2010, que chega daqui a pouco, inaugurando, de acordo com o calendário gregoriano, a primeira década do terceiro milênio.
                   


Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 20/12/2009
Reeditado em 20/12/2009
Código do texto: T1987938