PELAS ESTRADAS DA VIDA .
Tem certas horas que gosto de fazer um balanço sobre minha vida. Gosto de me lembrar de lugares em que já estive, de sensações vividas, de risos dados e de lágrimas contidas.
Não que eu queira parecer tão saudosista assim mas, às vezes é bom lembrar das estradas em que já caminhei, das encruzilhadas que surgiram a minha frente, das montanhas que tive que ultrapassar.
Raramente eu olho para trás. Sou desses que acredita que o trem da vida só anda para frente , só para nas estações que ainda vão chegar e não recua, não volta para pegar um passageiro que não tenha embarcado ou nem mesmo muda o seu trajeto.
Rever velhas estradas e as minhas caminhadas me ajudam a corrigir erros cometidos, encontrar os melhores atalhos e não me sentir tentado a cair em areias movediças ou desabar por enormes precipícios.
É claro que aquilo que ficou para trás não tem jeito, realmente ficou pelo caminho. A água de uma fonte que deixei de provar, uma flor que não parei para colher, um pôr do sol que não quis admirar, a suave brisa que ignorei ou o canto dos pássaros que me recusei a escutar já passaram, ficaram na beira de todas as velhas estradas.
Sempre procuro guardar na memória as melhores lembranças, os carinhos e os amores sinceros, o brilho do sol e o clarão prateado da lua, os melhores perfumes que já senti. Das tempestades eu procuro esquecer.
Logicamente que no meu caminho ainda vou enfrentar algumas, talvez várias tempestades mas, se querem saber, considerando as que já passaram pela minha vida, hoje eu me sinto melhor e mais bem preparado para enfrentá-las.
Não me lembro qual a melhor estrada que já trilhei, qual foi o melhor caminho que se ofereceu para me levar aos melhores lugares. O que sei é que hoje ou amanhã, se é que prá mim o amanhã vai chegar, tenho uma visão melhor de qual seria o meu melhor caminho.
Não escondo que já me iludi muitas vezes e na maioria delas fui atraído por luzes brilhantes, por promessas de vida fácil e de presentes fartos mesmo que não fossem merecidos.
Outras tantas vezes o bom senso e o equilíbrio me mostraram os caminhos mais difíceis e não me arrependo de tê-los escolhido.
Na minha vida já surgiram estradas sinuosas, algumas íngremes, muitas barrentas e poucas que foram planas, retas, lisas e sem obstáculos. Sei que isso é natural pois desde o meu primeiro passo e até o último que acabo de dar, não tenho dúvida que vou encontrar uma variedade de opções, um sem número de armadilhas e tentações que poderão ou me levar ao caos sem rumo e sem escalas, direto a infelicidade ou a uma ilha de paz , que é a dos meus sonhos.
Aprendi à duras penas que nem sempre o melhor caminho é o melhor caminho. Explico melhor. Muitas vezes, para não dizer na maioria delas, aquelas estradas de terra, com alguns buracos e sem uma paisagem definida e aparentemente sombrias é que me levarão com segurança ao meu melhor destino final.
É mais fácil escolher o caminho mais fácil, eu sei, mas o que me garante que escolhendo o caminho mais fácil minha rota não seria desviada, podendo me levar a tantos lugares ou destinos ilusórios ?
Quando eu nasci ninguém me deu um mapa com indicações claras e precisas dos melhores atalhos para enfrentar a vida. Muitos becos estreitos, muitas ruelas com pedregulhos surgiram na minha frente e foi graças aos meus enganos e meus tombos que consegui me desviar de muitas coisas e atingi, ou pelo menos , tentei atingir a principal rodovia que me levaria rumo a paz e ao encontro pleno dos meus sonhos e objetivos.
Não existem estradas totalmente fáceis e nem aquelas que possam conter só curvas e descidas perigosas. No entanto, todas elas, qualquer que seja o tipo de estradas sempre têm uma parte reta, tranquila, sem transito contrario, com belas paisagens ao redor e mostrando ao longe, mas não muito longe , montanhas verdes onde sempre despontam um belo nascer do sol ou a sua despedida para a chegada da irmã lua prateada.
Das estradas da minha vida só me arrependo de uma coisa. Foi de não ter aproveitado melhor para olhar a paisagem que fui deixando para trás. Me arrependo também de não ter colhido vários frutos que estavam bem próximos, como se estivessem me esperando para alimentar minha fome de esperança e conhecimento, além de tantas flores que poderiam perfumar muito mais a minha vida.
Entretanto eu não me arrependo dos desvios que cometi. E nem posso me arrepender de caminhos tortuosos e mais difíceis que tomei. Hoje enxergo melhor, ouço melhor, tenho mais confiança e por incrível que possa parecer, meus pés parecem mais fortes e minha intuição natural, juntando-se ao conhecimento adquirido e a experiência acumulada, não só me mostram o melhor caminho como também me ajudam e desviar de rotas falsas e de tentações e traições perigosas.
Poderia escrever um livro sobre as estradas da minha vida. Certamente poderia ! Mas, para quê serviria, para quem seria útil ? Só para mim mesmo, hoje, não tenho dúvida !
As estradas da minha vida me mostraram e não foi fácil perceber isso, que o melhor lugar que eu deveria conhecer, as melhores paisagens que poderia desfrutar, seriam as do meu interior, as de dentro do meu próprio coração.
A paz que eu procuro e pensava estar tão longe, só agora percebo, sempre esteve dentro do meu próprio peito, ao meu alcance......
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(.....imagem google.....)