Conversa de criança
Domingo. Estou na janela de minha casa, nada para fazer. Mas na casa em frente, na calçada, três meninos conversam trivialidades entre si – como só os meninos sabem fazer.
“Aquele cachorro é muito inteligente”, diz um deles, apontando para o animal que se coça ao longe, “ele leva o jornal para o seu dono.”
De repente me flagro atento à conversa e imagino a cena de filme americano: um animal que zelosamente mantém seu dono informado com as notícias do dia, enquanto lhe lambe as faces em subserviência e felicidade.
A infância também tem das suas disputas, uma delas é não ficar para trás em alguma conversa e o outro garoto, a despeito do que disse o primeiro, revela a proeza de seu bicho:
“O meu gato também é muito inteligente, pois ontem, sabendo que era dia de vacinação, não desceu do telhado.”
Continuo achando graça. O segundo menino mostra acontecimentos que vejo com mais freqüência.
Já o terceiro, que até então estava incógnito em meio à conversa dos outros dois, pode até não ser o que mais esteja à vontade com os acordos de verdade do mundo, mas com certeza é o mais criativo dos três.
“Pois o gato lá de casa é mais inteligente ainda, imaginem vocês que ele saiu de casa, foi vacinar e voltou para casa sozinho.”
Os outros dois riem, não sei se em concordância ou negação daquilo que foi dito. As horas passam, vem a noite, se sobrepondo à tarde e mais uma vez a inocência da infância suplanta a dura realidade de uma véspera de segunda-feira.