A PARÁBOLA DOS TALENTOS
Jesus contou a parábola dos três servos de um mesmo patrão. Ele ia viajar e pediu a eles que tomassem conta de seu negócio. A um deu cinco talentos (moeda da época) e pediu a ele que multiplicasse a quantia. A outro deu dois talentos e a outro apenas um. Quando ele voltou pediu conta do dinheiro entregue. O que recebera cinco talentos devolveu dez e o patrão agradeceu elogiando sua capacidade. O que recebeu dois devolveu quatro, e o patrão o elogiou agradecendo também. O terceiro que recebeu um, devolveu o dinheiro intacto, dizendo que como recebera pouco, teve medo de perder o pouco que tinha e então enterrou a moeda e estava devolvendo ao seu patrão. Porém o patrão se irou, dispensou esse servo e mandou que fosse entregue o talento para o que havia conseguido fazer dez.
A partir daí começo a investigar a razão desse talento ter sido destinado ao que tinha mais. Ambos haviam dobrado suas quantias, portanto haviam feito os mesmos cem por cento. Qual seria o critério usado por Cristo para destinar esse talento ao que tinha mais? Para mim sempre foi um mistério esse acontecimento. O que será que Cristo queria mostrar com essa parábola?
Já vi e ouvi interpretações como se esses talentos fossem no sentido de capacidades ou dons. No entanto o original fala de dinheiro mesmo. Talento, repito, era uma unidade monetária da região e da época de Jesus.
Sempre percebi uma incongruência no comportamento humano com relação a esse critério do Messias. Existe na mentalidade cristã, um hábito de querer compensar aqueles que têm menos. E menos em qualquer situação. Vejo o protecionismo sobre o que sabe menos, o que estuda menos, o que trabalha menos, o que se esforça menos, o que tem menos em detrimento da “riqueza” do que aparentemente tem mais. Alguém nessa história tem de estar errado. Seria Cristo, ou a mentalidade cristã que se formou depois de sua morte? Tenho assistido o que, para mim, são injustiças flagrantes. Por exemplo, em uma família um filho se sobressai, tem um sucesso profissional e financeiro. Outro, tendo as mesmas condições, não as aproveita. Não acho justo que o que fez menos receba maior ajuda financeira, ou seja premiado para que alce o mesmo nível do irmão. Acredito que quem trabalha mais, se esforça mais, tenha o direito de receber a mesma quantia independentemente da quantidade de bens que possui. Isso desestimula quem faz mais, e fortalece o comportamento de quem se aproveita da situação de ser considerado pouco competente.
Na escola, os alunos mais estudiosos, são discriminados pelos colegas, chamados de nerds, cdfs, e outros apelidos pouco lisonjeiros como se fossem uns bobos e ingênuos por assim se comportarem. Isso tem a ver com essa “onda” de privilegiar o mais fraco, acreditando que o melhor não tenha mérito maior que ser um privilegiado natural por sua inteligência e competência.
Tudo que somos é fruto do esforço pessoal para alcançar metas que nós mesmos traçamos para nosso futuro. Para mim, quem estabelece metas mais ousadas, pode e deve usufruir de resultados maiores sem, contudo, ser desconsiderado no caso de uma divisão eqüitativa de direitos e deveres.
Notamos isso em todas as áreas. Na área profissional, vemos a lei pesar impostos sobre a riqueza, se esquecendo que é essa mesma riqueza, esse mesmo capital, que propiciará o emprego e o sustento de tantas pessoas que trabalharão para essa dita instituição ou pessoa rica. Se eles não obtiverem essa riqueza por mérito de capacidade, como poderão contratar e pagar pelo serviço dos que não têm o mesmo mérito?
A desculpa é que existem pessoas que não tiveram oportunidades iguais. É aí que acho uma ingenuidade alguém usar esse tipo de argumento. Atualmente a imprensa tem comentado, em larga escala, o caso do rapaz que morava na rua, estudava em bibliotecas públicas e colégios gratuitos, e que por esforço e persistência passou no concurso do Banco do Brasil, como escriturário. Por acaso seria justo privilegiar seus colegas de rua e equipará-los a ele só para que não se sintam injustiçados?
Nessas horas que lembro o patrão da parábola:- Arranquem o talento da mão do que não se esforçou e entregue ao que fez dez! E acrescenta ainda frase que por muito tempo me incomodou pela minha falta de compreensão e soa como sentença cruel:
“Por que a quem tem, tudo será dado, mas aquele que não tem, até o pouco que tem lhe será tirado”
Estranho não? Dizemo-nos cristãos e andamos na contramão dos ensinamentos do Mestre. Os que estão “na rua da miséria” pela falta de empregos, reclamam e nada conseguem. Os presidiários incendeiam suas celas por melhores condições e são atendidos. O que paga imposto e vive corretamente tem de se prender dentro de casa enquanto os bandidos que permanecem nas ruas. Vejo gente participando de concursos e sendo privilegiados pela cor enquanto outros perdem suas vagas com notas maiores. Interessante, é crime chamar alguém de negro, mas não é crime chamar o cidadão de branquelo... Por que não? Se o crime é a discriminação racial, o branco pode estar sendo tão discriminado quanto os que hoje são denominados afros descendentes. Afros descendentes nessa terra, todos somos. Não vejo por que uma pele mais tonalizada deva ter privilégios maiores que as mais claras. Chamam esses grupos de minorias sociais. Qual o quê! Minoria são os que lutam, se esforçam de maneira digna e honesta.
Uma coisa que sigo à risca são os preceitos bíblicos que eu mesma consigo compreender. E cada dia que passa me encanta mais a sabedoria oculta nos seus textos, e tão mal usada pelas instituições religiosas. Uma das coisas interessantes que noto é o uso da palavra humildade em contraposição a humilhação. O uso da palavra símplice em contraposição a simplório. E tantas outras mais...
Dizem as Escrituras que a sabedoria mora na boca dos símplices (os que não complicam).
Pois foi pela boca de um deles que aprendi o verdadeiro significado da parábola dos talentos. Acordei uma manhã com isso na cabeça e quando minha empregada veio trazer-me o café, perguntei-lhe se ela sabia por que o talento havia sido dado para quem tinha mais.
Na maior tranqüilidade ela respondeu prontamente:
-Por que a responsabilidade de quem tinha mais era maior! Se ele gerenciasse mal, o prejuízo seria maior, portanto ele fez jus a receber o prêmio. Arriscou mais, mereceu mais!
Fiquei muda o resto do dia... E adotei a “filósofa” que tenho em casa para discutir temas tão densos... Existem assuntos que só os símplices têm acesso às respostas!...