COELHO à la GABRIEL
Éramos todos vivos. Eu já morava no Catetinho e ele era meu. Não havia sido criado o platô na frente da casa. O morro descia à frente com ligeira curvatura natural do morro, deixando ver o vale e o panorama até a Pedra da Maria Comprida, aquela pedra se destacando no horizonte de montanhas azuis depois de Itaipava, lá pros lados de Araras.
Na frente da casa o Tio Alfredo fizera uma escada de tijolos que seguia em trilha de terra, descendo em curvas até a Caixa Dágua no meio do pasto. Só uma grande árvore entre a casa e o panorama, na virada do morro que passava a ser pasto das vacas.
Sob a árvore existia uma pedra grande, meio arredondada, boa de sentar e ficar admirando a paisagem. Um lugar bom de pensar, de costas para a casa. Muitas vezes eu descia até lá, e me sentia plena. A mãe em permanente atividade com sua Clínica e plantações na fazenda. O Pai aparecia de jipe vindo de Petrópolis e passava o dia ali.
Eu criava coelhos; tinha uma coelheira construída pela minha mãe, no meio do morro acima e ali instalei minha criação de coelhos a partir de um macho e três fêmeas. Eu aprendera tudo sobre coelhos, e eles se multiplicaram, lindos, pêlo cinza como chinchila e graúdos.
Uma vez apareceu o meu irmão Gabriel Martins, engenheiro da Montreal, um rapaz lindo. E sorrindo. Levava a vida na despreocupação. Alegre, conversa admirável era uma maravilha. Quando soube dos coelhos vaticinou “Vamos Comer coelhos’.
Mas eu criava só por puro prazer, sem a menor finalidade prática. Só pela alegria. E amava a coelhada. A princípio, não levei a sério e Lucinha, que cozinhava pra nós fazia sempre um almoço gostoso.
Não quis acreditar. Falei: “você tem coragem?”
Ele: “Claro, nada demais”.
E desceu em direção à pedra sob a árvore, o meu lugar de filosofar, com os coelhos presos pelas patas traseiras ou pelas orelhas. Não quis olhar nem acreditar. Preferi crer que era uma brincadeira. De longe vi o movimento que fazia. O coelho do alto em direção á pedra.
Ouvi o ruído.
E voltou ele todo animado, entregando o bichinho nas mãos da Lucinha e ficou por lá dando explicações a ela.
Adormeci enquanto escrevia.
Despertei surpresa
É que sempre me lembro do Gabriel é com amor e carinho; mudo de estação.
E veio à hora do almoço, e lá estava o coelho em postas como um frango, saindo fumaça sobre a mesa. Todos comeram e gostaram e tinha sabor de galinha.
Provei um pequeno pedaço. E engoli aquela carne. e vejo o sorriso vitorioso e solto do Gabriel.
Mas eu engolira alguma coisa mais que não sei dizer.
Éramos todos vivos. Eu já morava no Catetinho e ele era meu. Não havia sido criado o platô na frente da casa. O morro descia à frente com ligeira curvatura natural do morro, deixando ver o vale e o panorama até a Pedra da Maria Comprida, aquela pedra se destacando no horizonte de montanhas azuis depois de Itaipava, lá pros lados de Araras.
Na frente da casa o Tio Alfredo fizera uma escada de tijolos que seguia em trilha de terra, descendo em curvas até a Caixa Dágua no meio do pasto. Só uma grande árvore entre a casa e o panorama, na virada do morro que passava a ser pasto das vacas.
Sob a árvore existia uma pedra grande, meio arredondada, boa de sentar e ficar admirando a paisagem. Um lugar bom de pensar, de costas para a casa. Muitas vezes eu descia até lá, e me sentia plena. A mãe em permanente atividade com sua Clínica e plantações na fazenda. O Pai aparecia de jipe vindo de Petrópolis e passava o dia ali.
Eu criava coelhos; tinha uma coelheira construída pela minha mãe, no meio do morro acima e ali instalei minha criação de coelhos a partir de um macho e três fêmeas. Eu aprendera tudo sobre coelhos, e eles se multiplicaram, lindos, pêlo cinza como chinchila e graúdos.
Uma vez apareceu o meu irmão Gabriel Martins, engenheiro da Montreal, um rapaz lindo. E sorrindo. Levava a vida na despreocupação. Alegre, conversa admirável era uma maravilha. Quando soube dos coelhos vaticinou “Vamos Comer coelhos’.
Mas eu criava só por puro prazer, sem a menor finalidade prática. Só pela alegria. E amava a coelhada. A princípio, não levei a sério e Lucinha, que cozinhava pra nós fazia sempre um almoço gostoso.
Não quis acreditar. Falei: “você tem coragem?”
Ele: “Claro, nada demais”.
E desceu em direção à pedra sob a árvore, o meu lugar de filosofar, com os coelhos presos pelas patas traseiras ou pelas orelhas. Não quis olhar nem acreditar. Preferi crer que era uma brincadeira. De longe vi o movimento que fazia. O coelho do alto em direção á pedra.
Ouvi o ruído.
E voltou ele todo animado, entregando o bichinho nas mãos da Lucinha e ficou por lá dando explicações a ela.
Adormeci enquanto escrevia.
Despertei surpresa
É que sempre me lembro do Gabriel é com amor e carinho; mudo de estação.
E veio à hora do almoço, e lá estava o coelho em postas como um frango, saindo fumaça sobre a mesa. Todos comeram e gostaram e tinha sabor de galinha.
Provei um pequeno pedaço. E engoli aquela carne. e vejo o sorriso vitorioso e solto do Gabriel.
Mas eu engolira alguma coisa mais que não sei dizer.