A Desmemoriada
Ela era daquelas meninas que fazem os homens se aproximarem por amizade e terminarem por interesse. Mas ela não é assim, daquelas que ficam com todo mundo. É tímida, quieta, bonita e simpática. Finalmente estava na auto-escola e como de costume, seu instrutor se interessou por ela. Cansada de tanto esperar e cair do cavalo, aceitou. Seria à noite, oito horas, em frente do bar do seu Jorge. Tudo pronto. Até no salão havia ido. Mas um problema surgiu:
- Ai, minha Santa das Carmélias !
- Que foi Bel? Machucou? Você também, há quantos dias não lava o cabelo?
- Não! É que hoje vou sair com meu instrutor e não lembro o nome dele.
- Ih! Acho que o santo é o Longuinho o idela.
- Agora, o que eu faço?
- E eu que sei? Só espero que você não tenha esquecido de me pagar.
- Rê! Marca lá junto com a mão e o pé do mês passado. Juro que pago semana que vem.
- Olha lá menina. E boa sorte no encontro.
Sete e meia e nada da Bel lembrar-se do nome do dito cujo. "Seja o que Deus quiser". Lá foi, torcendo que no meio do caminho se lembrasse do nome.
- Oi.
- E aí, preparada?
- Ah, sim claro. Onde vamos?
- Pensei em irmos ao Cordel? Que acha?
- Ótimo.
Entraram no carro e por um momento Bel pensou que o instrutor, sem querer, deslisou sua mão do câmbio da marcha para a perna dela, disfarçadamente. Ela apenas encolheu e matutou em como descobriria o nome do parceiro. Lembrava-se que era algo com jota e elmo, élio, elso...
- Joelso - de repente ela grita.
- Heim?
- Joelho, meu joelho está doendo. Bati na quina da mesa.
- Ah, puxa! Quer que eu passe um remédinho...
- Já passei. Conte-me mais um pouco sobre você.
- Claro! Então eu sou instrutor de auto-escola.
"Sério? Nossa que novidade! Seu nome, seu nome..."
Nada de vir à cabeça de Bel o nome e muito menos dele falar.
"João, Juvencio, Joaquim, o Meu Deus me ajude."
- Mas então Ana, e você fale um pouco.
"Ana? Ele me chamou de Ana? Isso é um cúmulo, inadmissível. Nunca erre meu nome, não chute, não o diga."
Abriu a porta do carro e saiu sem dar nenhuma satisfação.