PEIXINHOS BAR

O boteco do cara era especialista em três tipos de peixe:- traíra sem espinho, surubim em postas e piramutaba assada, todos eles servidos com arroz, feijão tropeiro, torresmo, fritas e uma baita salada de alface, pimentão, tomate e bastante cebola! ...

Localizado na Vila Cloris, um bairro agradável da capital mineira, próximo à Lagoa do Nado, no final duma rua bucólica chamada Alameda dos Bemtevis, o barzinho era o meu favorito para levar algum amigo ou parente visitante, alguém que apreciasse uma boa comida e uma cerveja gelada.

Certo domingo baixamos lá, eu, minha cara metade, meu genro paulista, o Décio, sua esposa, minha filha Ana Claudia e minha netinha Isabela, todos a fim de degustar a famosa traíra sem espinhos.

Chegamos, nos acomodamos, veio o garçom, muito simpático, fizemos o pedido e ficamos à espera, saboreando uma loura gelada e beliscando um torresminho.

Foi quando adentrou o recinto um coroa, coroa não, um velhote empertigado nos seus 70 anos, acompanhado de duas autênticas “piranhas”, uma loura oxigenada, magricela, e uma morenaça cheinha de corpo.

Do jeito que o trio chegou, tomou assento e chamou o garçom, não deu para despistar, chamando as atenções de todos os freqüentadores.

O velho falava, ria alto, sua dentadura balançava e ameaçava voar da sua boca para as redondezas, a morenaça piscava muito, cruzava e descruzava as pernas e a loura oxigenada bebia sua coca-cola de canudinho, sugando o líquido estrepitosamente ...

Aí, minha mulher virou-se e disse:-

“- Cá pra nós, não dá pra pensar que ele é o pai das meninas, não é?”

“- Não, não dá”, retruquei. “- O fato é que o nosso amigo agora vai ter que mexer no seu cardápio e acrescentar mais um prato do restaurante:- piranha ao molho vina-velho” ! ...

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B.Hte., 03/02/96