Vai Entender os Pais

Inspirada num dia ruim

Ela achou que isso já tivesse passado. Pensou que era uma fase. Estava enganada.

De fato, não aguentava mais.

Eles brigavam de novo e ela... ela não entendia.

Quando as coisas pareciam bem, logo tinham de piorar.

Ver seus pais brigando era uma das coisas que a menina mais detestava no mundo – era dolorido, mas de tão frequentes os desentendimentos, ela já nem derramava lágrima alguma. Doía seu coração.

Começou a se lembrar de uns 7 meses atrás, quando as brigas aconteciam todos os dias. A lembrança a fazia chacoalhar a cabeça, como se essa atitude a fizesse esquecer aquelas cenas e aquelas palavras – grosseiras, ruins, apavorantes, feias, incabíveis.

Lembrou-se das tantas vezes em que trancou-se em seu quarto e começou a cantar o mais alto que podia, a fim de não ouvir aquelas palavras. Ou das vezes em que aumentava o som de seu Ipod, com o mesmo intuito.

Lembrou-se daqueles dias ruins, de meses atrás... tentou calcular quanto tempo durou – mais de dois meses, concluiu.

Nem quis lembrar do peso que perdeu naquela época e que ainda não recuperou.

Bem menos das noites em que foi dormir com lágrimas amargas e das tantas orações que, muitas vezes, fazia de forma mecânica.

Esqueceu-se de tudo.

Ela não queria que as coisas fossem assim. “Por que eles não resolvem essa situação?”; “ Por que complicam tanto se eles, mesmo que estranhamente, se amam?”;“Por que são tão orgulhosos?”; Eram tanto porquês na cabeça da garota.

Ela só queria que vivessem em paz, como uma família normal. Só queria a felicidade que hoje já não paira sobre aquele lar.

Depois que as coisas acalmaram-se, a mãe, com os olhos ainda avermelhados de tanto pranto, foi perguntar para a menina o que ela queria de natal. “Se quiser pode ir comprar aquelas roupas e sapatos que experimentou semana passada. Ou o que quiser”. A garota permaneceu em silêncio, então a mãe perguntou de novo o que ela queria. “Nada” – respondeu com uma voz suave. Mas ao mesmo tempo pensou: Tudo que quero de Natal é que você e o papai fiquem bem.

A mãe já havia deixado o quarto, meio trêmula - sabe-se lá quantos calmantes havia tomado... a menina então deitou sobre a cama arrumada. Pensou. Cantou baixinho uma canção de ninar. Adormeceu.

Devoradora de Palavras
Enviado por Devoradora de Palavras em 17/12/2009
Reeditado em 22/12/2009
Código do texto: T1983420
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