Eu Sou O Que Eu Sou
Eu Sou O Que Eu Sou
Em termos de medidas de tempo, os animais demoram um impensável ciclo evolutivo para subirem de estágio. O centro ígneo da Terra os compele à Terra.
Ser humano é parte bicho, parte Divino. Será a sua razão que o fará escolher entre um e outro. Quanto mais os organismos por aqui se desenvolvem, mais sua força interior adquire sensibilidade, esta se transmuta em instinto, esse último em inteligência. Quando atinge, por fim, o esboço do que virá a ser chamado de consciência, é hora de entrar em contato com o Céu dos Fixos.
Ontem, humildemente, pedi para ser, como dizer, imbuído do espírito de Natal. Atente bem que não fiz esse pedido à sub prefeitura de Santo Amaro, à livraria do shopping ou ao camelô da esquina.
Dr. Joshua David Stone, Ph.D. em psicologia transpessoal, enumera num de seus livros o que ele chama por afirmações de fé e ou invocações de poder, em várias religiões. Eu Sou O Que Eu Sou figura na lista. O editor W.V. Costa prefacia uma magnífica obra colocando, acima de seu nome, Eu Sou O Que Eu Sou.
Debater a fé está fora da redação.
Dizem os entendidos que neste final de 2009 a energia dominante, e que está mexendo com todos, é a energia do desapego somada a chegada do regente para 2010, Saturno, sempre exercendo seu papel e agora dizendo: seja lá pelo que foi que você optou, vai ter que se jogar mais fundo na opção. Os entendidos se comunicam com o Céu dos Fixos, residência de certa categoria de almas perfeitas. Melhor assim, pois todos se comunicam por aqui, querendo ou não, e, ouvi dizer, existem residências e residências no vasto universo.
Outros entendidos afirmam que uma plataforma de embarque custa 650 mil reais e que a empresa que compra esse acessório, para que os passageiros não tenham que descer do avião por uma corda, pagou 2 milhões por cada plataforma. O maestro John Neschling, em entrevista recente para Paulo Henrique Amorim, atesta que estamos culturalmente nas trevas, por vários motivos muito bem explicitados por ele, dentre os quais e a exemplo, a tal incompreensível Cidade da Música, (580 milhões).
Exatamente hoje não saberia dizer com palavras o que significa o espírito de Natal sem entrar em controvérsias religiosas, por exemplo.
Controvérsia religiosa está fora da redação.
Depois de certa idade, umas tantas emoções mais o (precário) manejo do raciocínio, concluo que devo lidar com o Natal na única forma possível de compreendê-lo, compreensão essa que abdica totalmente de palavras.
Por outro lado, e dentro do próprio paradoxo que o natal externo apresenta nas ruas, alagadas e povoadas por uma perturbação incessante estampada, justificadamente, nos semblantes de meus compatriotas, usufruo de palavras para traduzir o Natal em si como uma trégua na memória que murmura, no intelecto que questiona, na verborragia inquieta da mente.
Esse 17 de dezembro, logo ao raiar do dia, mostrou que meu pedido fora aceito. E nessa mansidão que não lamenta o todo ou suas partes, me ocorreu que a meta de 2009 foi cumprida: a de deitar a cabeça no travesseiro todas as noites e reconhecer conscientemente que hoje fiz o melhor que podia.
Talvez no Natal ocorra uma espécie de ponte entre as ruas alagadas e os animais abatidos para as ceias fartas cujas migalhas alguém se beneficiará, com os homens e mulheres de boa vontade e daí para o Céu dos Fixos.
Que a trégua seja libertadora e a ponte, luminosa.
Feliz Natal e Abençoado 2010.
Eu Sou O Que Eu Sou.