Universo Paulistano

SÃO PAULO, A MÃE DE TODOS NÓS...

Lembro-me muito pouco de quando cheguei em São Paulo, tinha apenas 6 anos e isso aconteceu em 1.976. Mas lembro de algumas coisas interessantes dessa acolhedora cidade que nos recebeu tão bem. Meu pai recebeu uma proposta de trabalho, referente ao cargo que ele exercia em Santa Catarina (exército). Viemos todos de mala e cuia, com a proposta de uma vida melhor, mas ao longo dos meses meu pai não conseguiu de adaptar à cidade, pois uma vida no “interior”,era muito diferente da tão corrida São Paulo. Mas houve um problema, minha mãe já estava super adaptada e por conta de alguns fatos, meu pai voltou sozinho para o Sul e minha mãe ficou aqui somente comigo e meu irmão. Morávamos em uma pensão na Celso Garcia, onde moravam também outras pessoas que vieram de fora, a maioria do Sul, por isso minha mãe logo se adaptou e fez muitas amizades.

Enquanto minha mãe trabalhava em uma indústria em Santana, nós, eu e meu irmão, ficávamos com a Dona da Pensão, Dona Cocó, ela cuidava muito bem de nós e minha mãe podia trabalhar sossegada. Bem, passado alguns anos, minha mãe conheceu um Gaúcho que veio se instalar na mesma pensão, solteiro e de boa linhagem. Logo ele se encantou comigo e meu irmão e após alguns meses eles se casaram. Fomos morar em Diadema, um bairro semi-novo que se encontrava sobre o poder do município de São Bernardo do Campo, hoje não é mais, já é uma cidade independente que faz parte do Grande Abc.

Moramos em Diadema por 20 anos, e fomos muito felizes lá. Minha mãe, mesmo com o pouco salário, sempre fez questão de nos levar para passear, nunca tivemos carro, mas os ônibus em São Paulo nos levam para qualquer cantinho que possam imaginar. Íamos sempre a lugares de pontos turísticos famosos em São Paulo, pois além de conhecer-mos bem a cidade, também se fazia um passeio barato. Quando pequenos íamos sempre ao Zoológico, lugar belíssimo e maravilhoso, íamos aos cinemas da Avenida Ipiranga, fazíamos piquenique no museu do Ipiranga e passeávamos sempre no Parque do Ibirapuera.

Nesta São Paulo que acolhe a todos, na minha visão, somos todos iguais, independente do fator econômico, passamos a ser iguais em alguns momentos. Quando passamos nos nossos carros importados na Avenida São João e Amaral Gurgel, nos deparamos invadindo o lugar dos moradores de rua, e nos tornamos iguais, quando vamos correr no parque do Ibirapuera, nos deparamos com os mendigos tirando seus cochilos embaixo de uma frondosa árvore e somos iguais, nestes lugares de São Paulo, não há distinção de pessoas, ela sempre nos recebeu de braços abertos. Nem precisamos ir ao Nordeste, Centro Oeste, Norte, Sul, Sudeste para conhecer outros povos, pois eles estão na sua maioria por aqui mesmo, em São Paulo. Até os Japoneses, Italianos, Árabes e demais, se encontram e confraternizam em São Paulo, fazendo disso tudo uma grande cidade de grandes misturas, de grandes e variadas línguas.

Meu irmão não quis ficar, tomou conta a violência em nossa querida cidade, já não dava mais para compartilhar sem ter medo de um assalto ou algo assim, já não conseguimos mais levar nossos filhos, como nossa mãe fazia, levar-nos para um piquenique enfrente a Igreja da Praça da Sé, hoje não existe mais isso. Ele teve medo, voltou para o Sul, e aqui, nesta cidade tão poderosa, só tenho laços parentais com minha mãe, pois toda nossa família, não quis arriscar a vir para essa cidade chama de “Cidade dos Loucos”, mas que para mim, é a mais verdadeira Cidade Maravilhosa.

Conheci meu marido aqui, um verdadeiro Paulistano nato, tivemos nossos três lindos filhos aqui, tudo que conquistamos foi aqui, temos só que agradecer. Cresci aqui, me formei aqui, me casei, constituí família, negócios, amigos, inimigos, mas foi tudo aqui, como não agradecer?

Cidade Maravilhosa, cheia de encantos mil, Cidade acolhedora, Cidade em que todos nós, mamíferos, nos deleitamos em seu peito de protetora mãe, Cidade que nos rende mais alegrias do que tristezas, Cidade que recebe mais de um milhão de pessoas aos finais de semana na famosa Rua 25 de Março, Cidade que nos leva a subir e a descer aquela Ladeira Porto Geral apinhada de gente, Cidade que leva todos a comer pastel de bacalhau no Mercado Municipal do Parque D.Pedro, Cidade que levam pessoas do Brasil inteiro a buscarem artigos para suas lojas fora da cidade, Cidade da rua José Paulino, Cidade da Rua da Mooca, Cidade da Noite da Pizza, querem mais? Só isso já nos daria tanto prazer e nem poderíamos reclamar de nada. Nesta cidade tão acolhedora dificilmente alguém passa fome, eita povo bão, eita povo acolhedor, nos doamos aos povos, sejam eles quais forem, ajudamos e ajudamos, fazemos o bem, sem olhar a quem, nossa São Paulo retribui aquilo que damos a ela, sempre, sempre e sempre.

Minhas férias? Ubatuba, São Paulo, Meu natal? Passeando na Avenida Paulista, em Moema e terminando no Ibirapuera para assistir as águas dançantes e a árvore mais linda de natal. Dinheiro? Leve um sanduíche no bolso e uma garrafa de água, sente-se no gramado de tantas luzes e aprecie essa São Paulo do Monumento das Bandeiras, dos Bandeirantes e de quem mais fizer parte. Minha mãe sempre falou em voltar para sua terra natal, mas cadê coragem de largar tudo isso? Não creio que ela se vá, seus netos já cresceram, estão quase se casando e lhe dando bisnetos, todos paulistinhas, nova geração, ela não volta não, só para rever a família, seu lar hoje é aqui, sofreu muito lá, e quase nada aqui, o que sofreu aqui é o que todos sofrem, mas aqui em Sampa, sofremos juntos, nada separado, sempre todos juntos.

Lembro-me de um fato muito lindo de quando estava passando de carro no Parque D.Pedro, me deparei com um casal embaixo de um viaduto, dançavam alegremente abraçados com o filho pequeno, ao lado, uma lata de marmelada cozinhando algo que eles logo iriam comer, fiquei sorrindo e vendo o quanto São Paulo nos traz felicidades independente do grau de dificuldade em que estamos. Passeando pelo Viaduto do Chá, também costumo encontrar pessoas sofridas, mas sempre com um sorriso no rosto, essa é São Paulo, a tão acolhedora dos povos de todas as raças.

Aprendi a ver a cidade com um olhar mais profundo, um olhar bem mais aguçado, deixo pra lá esses atos de violência, não quero que isso faça parte do cartão postal daqui, temos tanto a oferecer, temos muito a oferecer, muito mais felicidades, e sonhos do que a violência em si, esqueça essa parte, eu os peço!

Não se faça de rogada minha mãe, sabes bem que sou Catarina de nascença, mas misturei meu sangue com você, então merece todos os aplausos.

Não durma nunca, continue essa brava jornada das madrugadas, não pare nunca, não morra como alguns querem, sobreviva, continue a receber teu povo, continue a fazer o que tem de melhor, Ser MÃE, Ser MÃE de todos os povos!

Adriana Pueblo

Adriana Pueblo
Enviado por Adriana Pueblo em 16/12/2009
Código do texto: T1981063
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