Cultura Afrodescendente
Como de costume, levanto-me cedinho e vou à praia caminhar. Além do saudável exercício físico, contemplo a mãe natureza, a partir do nascer do sol, com o seu grandioso espetáculo, ao emergir das águas do mar.
No último dia 8, dia de Nossa Senhora da Conceição para os católicos e de Iemanjá para os seguidores de Orixá, ao som de tambores, rezas e cantorias, lá estava uma multidão de mulheres com seus longos vestidos brancos e homens de camisas azuis e calças brancas. Levado pela natural curiosidade, fui ver de perto aquela manifestação em louvor à sua mãe Iemanjá.
Depois de terem levado algumas oferendas para o mar, num pequeno barco, começa ali na praia o seu culto religioso, com algumas manifestações próprias de sua cultura. Dentro d’água, uma mulher idosa, no meu entendimento a Mãe de Santo, banhava a cabeça de cada uma das pessoas, de uma enorme fila que se formava em sua direção. Entoavam um canto, cujo refrão cheguei a decorar, de tanta repetição: “Oh minha gente toda / Vamos todos para o mar / Vamos pedir ajuda / À nossa mãe Iemanjá”. E na segunda estrofe, dizia: “A estrela brilha / O sol “quilareia” / Vamos pedir ajuda / À nossa mamãe Sereia.” Para quem entende um pouco de rima e métrica, vê-se que a pronúncia inculta de “quilareia”, no lugar de "clareia" foi a solução para completar a sílaba poética.
Com todo respeito à sua cultura, obedecendo ao artigo 5º, inciso VI, da nossa Constituição, que diz ser “livre o exercício dos cultos religiosos”, ali fiquei algum tempo e até conversei com alguns dos seus integrantes, indagando o significado de cada parte da manifestação. Independentemente do aspecto religioso, gosto também de conhecer o sentido sócio cultural, pois somos uma miscigenação das raças africanas e européias, com os nossos indígenas. Sem nenhum conhecimento científico de psicologia ou parapsicologia, causava-me estranheza ver como algumas pessoas entravam em transe, à medida que a Mãe de Santo empunhava as mãos sobre a cabeça dos seus seguidores, dizendo estarem possuídos do espírito de Oxum.
Que o diga o Padre Quevedo, mas na minha crença, na minha baixa cultura científica ou religiosa, ali não passa de um autosugestionamento levado pela forte emoção e poder da própria mente.