O JOGO É MEU!

Lotérica de Shopping e uma fila enorme de impacientes.

Aproximando-me do guichê observo, ao lado, uma senhorinha, pessoa simples, a insistir com a caixa, em voz alta:

- Antes é preciso preencher o volante, minha senhora.

- Eu nunca preenchi isso, menina! Sempre dou o jogo e fazem pra mim. Por que você não pode?

- É a regra, senhora, primeiro é preciso preencher o volante.

- Você não pode fazer pra mim? Eu não sei fazer.

Dada a insistência - e a fila, que não andava -, a garota do caixa cede à pressão.

- São quatro reais.

- Como??!! Eu sempre paguei dois! Como, quatro reais!

- A senhora me mandou fazer. Fiz. São quatro reais. Agora quer que eu fique com o prejuízo?

Segue-se nova ladainha.

Para encurtar a história, intervenho:

- Pode deixar que eu fico com o bilhete.

A caixa, ante a obstinação da senhora, esclarece:

- A moça ficou com o bilhete. Não precisa mais pagar.

- Como!! O jogo é meu! Ninguém vai ficar com o meu jogo!

- A senhora não quis ficar, ela comprou.

A arenga não termina e eu me distraio com outras coisas. Chega a minha vez.

- Aquela senhora ficou com o bilhete?

- Ficou.

Peço um jogo no escuro e faço alguma outra aposta. A possibilidade de serem sorteados na mega sena os números 01-02-03-04-05-99 é a mesma de qualquer outra combinação.

Maria da Glória Perez Delgado Sanches

Membro Correspondente da ACLAC – Academia Cabista de Letras, Artes e Ciências de Arraial do Cabo, RJ.

Conheça mais. Faça uma visita blogs disponíveis no perfil: artigos e anotações sobre questões de Direito, português, poemas e crônicas ("causos"): http://www.blogger.com/profile/14087164358419572567

Pergunte, comente, questione, critique.

Terei muito prazer em recebê-lo.