DEPOIS DA CURVA .....

 

       Chovia muito, quase não dava para enxergar um metro a minha frente. A estrada estava mal sinalizada e os limpadores de para brisas não davam conta da sua tarefa.

       Estava sozinho no carro, era madrugada e naquele momento e naquele local não havia nenhum outro veiculo trafegando além do meu.

        Eu conseguia vislumbrar ao longe uma placa sinalizando uma descida em curva e nos segundos que me separavam daquele trecho que eu não conhecia, meus pensamentos fervilhavam e começei a pensar se deveria manter a velocidade, parar ou encostar para esperar que a chuva passasse.

      Naqueles segundos que antecediam a descida senti um pouco de medo. E se tomasse a decisão errada ? E se me equivocasse optando por ficar para naquele lugar deserto, naquela hora e não prosseguisse minha viagem ?

      Entretanto eu precisava tomar uma decisão e então sacudi a cabeça, mantive a velocidade , confiei nos meus instintos e na minha habilidade e experiência como motorista e fiz a curva suavemente mas com toda a firmeza e segurança necessárias.

     Mais a frente enfrentei outras curvas e quando cheguei ao pé da serra a chuva tinha diminuído, a iluminação estava muito mais firme e pude continuar minha viagem sem maiores surpresas, chegando ao meu destino são e salvo, sem nenhum atropelo, sem nenhum problema.

      O motivo de ter começado a crônica narrando um fato acontecido há algum tempo é muito simples. Se já o fazia por instinto, passei a aproveitar o episódio conscientemente para enfrentar meus problemas e minhas dificuldades com muito mais confiança. Quer dizer, não tenho mais medo de enfrentar o que vem depois da curva.

      Já usei inclusive o tema numa palestra e até hoje quando saio da cama, sigo em frente muito mais confiante, sem temer em absoluto o que vem depois de qualquer curva ou se terei que enfrentar subidas ou ladeiras íngremes.

      A grande verdade é que temos o hábito de enfrentar o desconhecido com enorme receio e no meu modo de ver é pelo simples fato de que damos sempre muito mais valor ao medo do que a confiança.

       No fato que ocorreu comigo, se não tivesse confiado nos meus instintos e principalmente na minha capacidade de dirigir talvez tivesse tomado a decisão errada e simplesmente teria me acomodado numa situação traiçoeira ao ficar parado  no meio da estrada.

        Ora, se tinha confiança nas condições do meu carro, se sabia dirigir com firmeza e segurança e além de tudo, como motorista experiente não tinha nada a temer.

        Tenho uma amiga que é assim. Inteligente, culta, mas não tem auto confiança e sempre vacila antes de dar um passo a frente. Ela é dessas que não só tem medo do escuro como também imagina que na escuridão existam enormes monstros com incríveis bocarras recheadas de milhares de dentes pontiagudos prontos a devorá-la.

        É claro que não é fácil superar o medo. Creio entretanto que o certo é enfrenta-lo, de frente, confiantes e sem nenhum receio. Acendendo a chama da confiança , a da segurança vem logo atrás e aí, não tem escuridão que possa resistir ao brilho próprio que cada um de nós tem.

       Lembro-me de que na palestra que fiz sobre o tema, um dos presentes me perguntou se teria coragem de repetir o feito mais uma vez e se na verdade, eu desci a rampa não porque estava confiante mas sim porque o medo me impedia de raciocinar. Quer dizer, eu tinha enfrentado o que vinha depois da curva muito mais por medo do que por auto confiança .

          A pergunta era procedente e apenas respondi que se tivesse me deixado dominar pelo medo teria ficado parado na estrada. E claro, se tivesse que descer a rampa outras vezes e nas mesmas condições eu o faria quantas vezes fossem necessárias.

       Evidentemente que cada obstáculo superado, cada curva nas estradas da vida que enfrento eu fico mais confiante e sigo muito tranquilo, sempre em frente.

        Entretanto, é sempre bom lembrar que confiança é uma coisa e excesso de confiança é outra completamente diferente.

        No fato ocorrido naquela noite chuvosa , com certeza se tivesse tido excesso de confiança eu desceria por aquela estrada às cegas, sem ter tido absoluta certeza de que o carro estava em plenas condições de fazer a descida.

       O que quiz dizer é que confiança e prudência, além de bom senso, estão sempre caminhando juntos.

        Acreditando nisto, não há motivo nenhum para se preocupar nem temer o que virá depois da curva.....

 

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(.....imagem google......)

WRAMOS
Enviado por WRAMOS em 15/12/2009
Reeditado em 23/02/2013
Código do texto: T1979661
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