Num breve despertar...
Águida Hettwer
 
 
 No prodígio da vida, somos luzes espantando a escuridão, janela entreaberta, cortinas balançando na sintonia do vento. Suave cântico de pássaros sobrevoando aos céus. Na medida em que embalamos sonhos, no riso declarado de uma criança. Sem o ceticismo massacrante de tudo criticar.
 
 Não fomos criados para andar em círculos, entretanto, nas ruas da alma, o pensamento corre solto, sem respeitar sinais, adentra nas casas, fazendo arruaça, revirando momentos, destravando gavetas de armários, remexendo em ilusões daquelas que guardamos a sete chaves em cadernetas onde a escrita é profética e oculta.
 
 A vida é um livro ainda por ser lido, cheirando a novo. Quanto mais folheamos, suas páginas, mais experiência adquirimos. Sem necessidade de trancafiar alegrias, dores, ressentimentos em prateleiras empoeiradas. A censura, não se alinha com a felicidade, é copo cheio de vinagre.
 
 Num breve despertar a vida se revela. Na crença que o fim não existe, apenas são três pontos de reticências, dando continuação logo ali. Do que teria valido a pena, tantos projetos, construções, valores inestimáveis de pessoas, que chegam e partem com a mesma freqüência. Mas permanecem vivas na memória, onde nada possa arrancá-las dali.
  
   Na linha do tempo, somos areia na ampulheta, emoção e razão, queda e equilíbrio, olhos rasos d´água. No idioma do silêncio, encontram-se as mais refinadas e serenas palavras, conversa longa e sem pressa. Dando ao tempo, o espaço necessário para filtrar emoções, feito suspiro de alívio.
 
 
15.12.2009