MORRER É SÓ NÃO SER VISTO.

MORRER É SÓ NÃO SER VISTO.

Chego ontem a um lançamento de livro de crônicas “in memoriam”. Salão tomado de pessoas, amigos do desaparecido, festa da sensibilidade a convite do Museu da Justiça, Grupo Mônaco de Cultura, Associação Niteroiense de Escritores.

Entra em contato com o mundo cultural “A Rosa Azul”, pequeno livro dos passeios de Luiz Carlos Peçanha, notável magistrado por sua seriedade, sorriso permanente e largo dos que têm muito afeto pelos humanos irmãos. Entre suas visões registradas em intenso grau do observador levado à fineza interior sua "Rosa Azul " geneticamente transformada.

De uma assentada, como dizem os magistrados, li o livro de poucas crônicas e muita riqueza. São cento e duas páginas que envolvem e retratam um tratado de vida, de vida fértil, profusa e carinhosa, exemplar no exemplo, brindando aos seus entes queridos com sua presença e existência singular, como assim testemunham ao vestíbulo do livro. Levava consigo como a sbedoria da montanha desce das fontes levando ao mar, um rio caudaloso de amor inesgotável, formando um oceano de bondades, próprio dos que levam na fronte a marca dos abençoados, visível no rosto amigo de quem nunca deixou de doar o sorriso farto.

E como diz o Peçanha, meu querido amigo do qual sua altíssima sensibilidade pouco desfrutei, “um dia também serei saudade daqueles que seguem a caminhada. E aqueles que hoje vivem ao meu redor se lembrarão de mim, dos gestos, das frases ditas, das manias, enfim, de tudo que fui no convívio diário. Até que sejam, também, saudade, pois a roda da vida é inexorável”.

E cita Fernando Pessoa: “a morte é a curva na estrada, morrer é só não ser visto”.

Esse “não ser visto” é o passo definitivo que leva a saudade e faz entrar no espaço distante, desconhecido e calmo, é “a curva na estrada” que surge, mas é contornada, como contornada e espelhadas em luz outras surgiram a abrir carinhos e retornos da luz deixada, frutos da irradiante existência amada por todos como sua neta Júlia de cinco anos, “Eu amava ele”.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 15/12/2009
Reeditado em 29/05/2010
Código do texto: T1979175
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