Apocalipse

“Apenas a morte é o fim”.

Eram palavras de minha mãe. Palavras que ecoavam em minha mente,e estendiam-me um tapete de medo e familiaridade. Não que tivessem grande ênfase. Era um fato,algo que aprendíamos desde os primeiros passos.A muito,eram palavras me torturavam. Não pelo medo da morte. Mas pelo fim ter chegado,e eu não ter morrido.

Não haviam cavalos alados em chamas,ou demônios traiçoeiros que o carregavam a um inferno escaldante,onde arderia eternamente. A muito não acreditava na eternidade,assim como nos caminhos que minha alma tomaria. Quem ligava para o possível inferno quando passava seus dias vivendo em um?

Desde que a água acabara,o planeta tornara-se tão escaldante quanto qualquer inferno religioso,e tão cheio de esperanças quanto o mar de areia que se tornaram os oceanos. Ver seus filhos,família,amigos, esvaecendo -se por seus dedos,e nada poder fazer,era agonia suficiente. Algo enfrentado aos poucos no dia de cada sobrevivente.

No final de todas as lendas sobre o “fim dos tempos”,não fora necessário nenhum Deus para destruir o mundo,principalmente quando o homem mostrara-se tão habilidoso nisso. Seu descaso com o planeta fora a receita ideal para o deserto que torna-se nossos solos. As químicas aplicadas em suas varias experiências o ingrediente especial para as doenças letais,e ironicamente incuráveis. Sua ganância e natureza ambiciosa o ultimo passo para a própria destruição.

Tomara que meus ancestrais tenham sentido grande prazer ao queimar uma floresta,caçar as espécies existentes para predominar a sua,ou devastar grandes áreas para beneficio próprio. Talvez imaginar seu prazer diminua nossa dor quando a temperatura alcança os cinqüenta graus,talvez nos conforte toda vez que nossa garganta arde em busca de liquido,e encontramos apenas a própria saliva castigada pela seca de nosso corpo. Talvez imaginar que não tenha sido sua culpa. Que fora apenas inexperiência. Afinal,crianças são inexperientes,inocentes pela ignorância. Ignorância suficiente capaz de criar ogivas que marcaram o destino de gerações.

Nunca saberemos o prazer de sentar a sombra de um arvores,de comer um fruto,de tomar um banho. Nossos prazeres se contem em um copo de água que não mate ao segundo gole.

Não os odeio porem. Não os odeio por não darem ouvido aos avisos,e todos os sinais de um futuro devastador. Meu presente infernal. Onde o canibalismo é a opção para muitos grupos,onde colocamos o nome de esperança nas nossas crianças,quando essas tem o azar de sobreviver ao parto,onde apenas vivemos,sem se importar com o futuro,pois sabemos que não será diferente,já que quem deveria ter pensado nisso,havia partido,levando junto todo nosso mundo.

Não os odeio,e nunca conseguirei. Talvez porque minha mente já esteja lotada de sentimentos que não consiga lidar. Talvez porque não tenham mesmo culpa. Talvez por amá-los.Porque mesmo não tendo pensado em nós,e no que teríamos que enfrentar,não deixam de ser uma parte importante em nossa vida.

Queria apenas que tivessem prestado atenção. Notado que cada papel de bala jogado descuidadamente ao chão,iria acabar com nosso planeta. Que cada guerra destruía não apenas o inimigo de uma nação,mas a nação em si. Que cada atitude fútil,desencadeava um efeito dominó,e tornava o lugar que hoje ainda chamo de lar,em um grande e eterno inferno. Queria que não tivessem deixado sua natureza humana prevalecer,e usado o que tanto chamavam de inteligência. Pois a meu ver,ninguém que faz isso com a própria morada pode ser considerado inteligente. Queria apenas que tivessem pensado um pouco em nós. Seus futuros netos e bisnetos.

Talvez seu eu fechar os olhos possa ver os rios correntes de água cristalina,as nuvens pesadas com o aviso de chuva,as verdes matas que estendiam-se abundando aos olhos humanos. Talvez se eu fechar os olhos veja o paraíso. Afinal,para quem vive no inferno,o paraíso deve ser o próximo passo. Pois para mim, fim havia chegado,e eu não havia morrido.

A.P.Ribeiro

A P Ribeiro
Enviado por A P Ribeiro em 15/12/2009
Código do texto: T1979100
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