O presente especial
Ela chegou de manhãzinha junto com a irmã.
Estranhei aquelas duas presenças tão cedo em um ambiente de trabalho.
O pai delas, meu colega de serviço, explicou a razão: Tinha que levar as duas meninas ao dentista.
Observei as duas crianças com curiosidade. A palavra dentista não era animadora para qualquer adulto, imagine para uma criança. Contudo, as duas meninas não me pareciam preocupadas e aparentavam uma calma intrigante.
Marta Maria, a maior (uns doze anos mais ou menos), se debruçou sobre a velha máquina de escrever esquecida em um canto da sala. Pôs-se a treinar datilografia com o tic tac cadenciados de seus dedos espertos e cheios de energia
Maria Eduarda, a menor (uns oito anos mais ou menos), munida de uma folha de papel e uma caneta, pôs-se a desenhar.
Eu me afastei um pouco, pois precisava resolver o problema de uma senha que necessitava de ser trocada com urgência. Desse modo, tive que ficar por alguns minutos em outra sala, distante da presença das meninas.
Quando retornei, Marta Maria ainda datilografava na velha máquina de escrever e Maria Eduarda retocava o seu desenho.
A televisão estava ligada e passava um desenho animado, porém ambas não se desligavam de seu entretenimento que ao meu ver, as deixavam esquecidas do enfrentamento com o dentista.
Voltei meu pensamento para os assuntos do trabalho e quase me assustei quando Maria Eduarda se aproximou de mim ostentando a folha com seu desenho. Perguntou se eu queria já tendo me entregue a folha e sem esperar a resposta.
Prontamente respondi que sim, devolvendo o sorriso que ela lançava em minha direção.
Larguei o que estava fazendo e fui analisar a obra prima da grande pequena artista.
Maria Eduarda havia desenhado o mar com muitos peixes. Ao longe uma canoa levava um pescador que erguia uma rede cheia deles. Um pé de coqueiro carregado de cocos também fazia parte da pintura. Mas, o que me chamou bastante a atenção foi o sol que ela desenhou. Um sol enorme, quase do tamanho do mar. E o sol possuía um sorriso largo de felicidade. Fiquei por alguns segundos admirando aquele sol, enquanto comentava com ela a respeito do desenho. O sol parecia bastante feliz e a alegria dele fazia a diferença naquele desenho. Quem quer que fosse olhar o desenho de Maria Eduarda, enxergaria primeiro os peixes no mar, o pescador com a sua canoa e a rede cheia, o coqueiro com os cachos de cocos. Todavia, quando se deparasse com o enorme sol sorridente esqueceria todo o restante do desenho. O sol era o “astro principal” da obra prima de Maria Eduarda.
Agradeci o desenho e permaneci fitando o sorriso largo do sol.
Ela e sua irmã se despediram de mim e seguiram o pai a caminho do dentista.
Antes de recomeçar o meu trabalho, olhei novamente o desenho e o lindo sol.
Havia recebido um presente especial naquela manhã. Destino ou não, eu consegui ler o que o desenho me dizia. Seria ótimo que eu transformasse a minha vida naquele sol sorridente e feliz. Iluminasse tudo à minha volta com otimismo e alegria.
Maria Eduarda foi enfrentar o dentista com uma calma incrível. Ela carregava consigo a luz e a alegria daquele sol que havia desenhado.
Guardei o desenho na minha gaveta.
Quando me sentir triste e na escuridão, pegarei aquele desenho e olharei para o sol sorridente. Certamente serei contagiada pela luz e pela alegria do desenho e estarei fazendo um bom uso desse meu presente tão especial.