Reunião de família e o caminhão de água

Para contrariar a norma, essa reunião da família foi boa. Há muito não nos encontrávamos assim. Depois que papai e mamãe se foram, acabaram aqueles encontros corriqueiros na casa da Vó. Então foi Toninho, o irmão caçula, quem teve a idéia e se dispôs a nos receber com um jantar pra lá de bom. Só deixaram de comparecer dois dos quatorze sobrinhos, os outros estavam lá. Alguns casados, outros com a noiva ou namorada. Até uma ex-cunhada muito querida participou. E foi justamente ela quem trouxe a relíquia: um filminho com cenas das crianças ainda bem pequenas. Nem todas, muitas ainda não tinham nascido... E agora puderam ver como se entretinham nas tardes de domingo. Além das brincadeiras (hilárias) com a bola no quintal, a principal atração era o ‘caminhão de água’.

Explico. Aos domingos, a feira animada na rua onde mamãe morava ia até lá pelas duas horas. Depois de desmontada, passavam os lixeiros. E para completar, vinha o tal caminhão.

Assim que ouviam o barulhão dobrando a esquina, todos corriam gritando para a frente da casa. Os maiorzinhos logo se aboletavam em cima das colunas que sustentavam os portões. Os menores, de um ano e meio ou dois, faziam malabarismos para se pendurar nas grades. E ali ficavam fascinados com o jorro fortíssimo de água que um homem direcionava pelo asfalto, andando na frente do caminhão. Enquanto ele vinha vindo todos os olhinhos brilhavam, mas à medida que se aproximava, e o barulho aumentava, alguns corriam para se esconder no terraço. E de lá ficavam a espiar, querendo e não querendo se molhar com os respingos.

A cena atraía também os adultos. Tias-avós aflitas com aquela criançada pendurada no muro... Avô e avó rindo dos netinhos... E nós, os pais, nos divertíamos também.

Valeu a pena ver de novo. E como!...